terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Reflexos na água



A idéia de fazer um blog nasceu de uma vontade súbita e tão intensa que eu não conseguia pensar em outra coisa o dia todo (essa introdução, inclusive, foi escrita entre uma garfada e outra durante o jantar, pois temia que minha terrível inconstância destruísse a euforia peculiar dos começos). Sim, um desejo repentino e fortíssimo, mas não inexplicável. É que tenho dois grandes amigos, a saber: Eduardo Cruz e Rosane de Castro, que são escritores e freqüentemente publicam algumas de suas produções em seus respectivos blogs, páginas das quais sou assíduo leitor. Creio que ainda vou falar muito deles(do Eduardo e da Rô) por aqui, posto que são , particularmente, duas referências importantes. Mais do que isso, meus cúmplices no Caminho. Deles veio minha repentina inspiração. Digo inspiração, porque a motivação real não procedeu dos dois, mas de uma vontade irresistível de me mostrar, revelar minhas preferências, meus pensamentos, sonhos e frustrações, alegrias e inquietações... enfim, era uma espécie de lampejo narcisista da alma.
E foi quando essa idéia do narcisismo me tomou, que ensaiei desistir do meu cibernético intento. Pensei: não vou me permitir fazer uma homepage movido por um sentimento tão egoísta e infantil. Quando lembrei dos nomes com os quais cogitava batizar a home (Retratos da alma, Pedaços de mim... e outros exibicionismos do tipo), ficava ainda mais irritado comigo. Parecia que eu queria me colocar numa vitrine virtual... ou representar várias facetas da minha alma em quadros pintados por mim mesmo, numa exposição egocêntrica, desmedida e descarada (me mostrar por mostrar, nada mais). Só lembrava das palavras do sábio no Livro Sagrado: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! O que eu não percebia era que o simples fato de não admitir uma motivação tão pouco nobre, já me abria o coração para dar um significado maior ao meu projeto. Pude ver que meu desejo de exibição não era tão seco assim. Ele estava permeado pelo íntimo clamor de ser amado, umedecido pelo conseqüente anseio de me identificar com outras pessoas. Poder compartilhar minhas lutas, dúvidas, medos, delírios, projetos, emoções... minha solidão. Isso mesmo, minha solidão! Sempre fui uma pessoa excessivamente retraída desde a adolescência, alguém com dificuldades de relacionamento (não me perguntem porquê, pelo menos agora não...poderei falar disso depois), embora tenha hoje a certeza (e a tenho desde que encontrei o Amor do meigo Nazareno) de que meus piores momentos de solidão são incapazes de me afastar da Divina Companhia, Sua presença me basta!
Pra alguns, quem sabe pra você, pode parecer um paradoxo, né?! Mas não é! Peço a Deus que o Dia o faça entender... Cáio Fábio, outra referência pessoal no Caminho, talvez possa expressar com maior clareza minhas “segundas intenções” (aquelas por trás da minha “amostração”, se é que ela ainda existe a esta altura!) ao elaborar essa página virtual. Ele diz: Diante disso, fica declarado suspenso o meu direito de me escandalizar com o que quer que seja verdade sobre você. Prefiro caminhar com você a partir de suas lutas e temores do que fingirmos que não trazemos essas coisas embutidas no cerne de nossas tribulações e dramas de vida.
Pronto, creio que agora consegui dizer o que eu queria. O internauta encontrará aqui um pouco do Que está dentro de mim. Na realidade, quem está querendo encontrar algo sou eu. Quero encontrar mais um cúmplice do Caminho. Se eu der sorte, achar um amigo... quem sabe?! Essa é minha oração. E, se Deus me abençoar mesmo, descobrir Jesus em você, meu próximo; e você em mim, como um reflexo na água. Só dessa forma, poderei te amar como a mim mesmo. Ou não foi assim que Deus nos amou? Identificando-se conosco, fazendo-se homem, tornando-se um de nós, reproduzindo em si mesmo nossa imagem caída, como um reflexo na água?
Alguém pode estar dizendo: Esse cara ,com essa estória de imagem refletida na água, só reforça suas pulsões narcisistas. Afinal, foi assim (contemplando seu próprio reflexo) que o Narciso da mitologia “apaixonou-se” por si mesmo. Perceba, no entanto, a gloriosa transformação da minha idéia egoísta inicial. Ao prostrar-me diante das águas para ver minha imagem, a Água Viva me surpreende: me faz enxergar a face do meu irmão, do meu próximo. Consigo, então, querer o seu bem como quero o meu. Compreendê-lo e ajudá-lo em suas lutas, já que elas não são tão diferentes das minhas como eu pensava, são a cruz que carregamos todos os dias. E aqui, maravilho-me com outra imagem refletida na água: a de um homem ferido carregando monte acima um pesado madeiro... ele é pregado e, em meio a agonia, intercede pelos seus algozes ofertando-lhes seu perdão... ele morre, mas no último suspiro diz que está tudo consumado, como se tivesse completado um missão... o homem de dores ressuscita ao terceiro dia e volta pra casa de seu Pai. Sim, é Ele: Jesus! É Ele o exemplo que anelo seguir desde o instante em que me ensinou a admitir minhas dores e, a partir delas, poder voltar, como Ele, ao meu lugar: os braços do Pai... o Amor pelo qual tanto clamo. É Seu amor que pretendo refletir qual reflexo na água para todos aqueles que puderem contemplá-lo... àqueles por quem Deus quis morrer.
Se em algum momento falhar em meu intento, perdoe-me, é que por enquanto, minhas águas são turvas e inquietas pelos vendavais deste tenebroso mundo, não me deixando refletir Sua imagem com perfeição. Contudo, não se preocupe, a Imagem é tão maravilhosamente bela, que minhas ondas são incapazes de ofuscar seu encanto.
Seja bem-vindo!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sou um ateu...


Sou um ateu quando se trata do deus violento da jihad
Sou um ateu quando se trata do senhor que converte pela espada
Sou um ateu quando se torna missão de políticos usar a religião como munição

Eu creio em Você, o artista de arvores e galáxias
Eu creio em Você, o poeta dos oceanos e rios e córregos
Eu creio em Você, no Deus de compaixão que nos chama para a ação
Eu creio em Você
Eu não posso crer no que eles crêem, mas eu creio em Você
Eu creio em Você, o majestoso arquiteto do espaço e do tempo
Eu creio em Você, o compositor da beleza e da musica da vida
Eu creio em Você, o santo perdoador e selvagem reconciliador
Eu creio em Você

Sou um ateu dos deuses da ganância que ignoram os necessitados
Sou um ateu dos deuses que levam aos outros a tortura e o sofrimento
Sou um ateu quando se aceita a visão dos poucos escolhidos,
que julgam e condenam quem deles é diferente

Eu creio em Você, poderoso e manso e gentil em poder
Eu creio em Você, a palavra falada com boas notícias ao quebrado
Eu creio em Você, o mistério transcedente, conosco na história
Eu creio em Você


Bryan MacLaren

domingo, 16 de dezembro de 2007

O Natal verdadeiro


Silêncio!
O natal está chegando.
Já podemos ouvir os sons que chegam das ruas.
Já podemos ver as árvores enfeitadas de luzes.
Na TV muitas propagandas falam do natal.
Crianças correm e pedem presentes.
As lojas se enchem de pessoas que correm de um lado ao outro
Cheias de pacotes.
Comemoram-se as compras, as vendas, o consumo.

Mas o verdadeiro Natal não é esse.
O verdadeiro natal chega silencioso a cada vida,
E toma conta de cada coração
Que não tenha perdido a doçura de sentir.
Este natal chega de graça*
Trazido pelo brilho suave da mais bela das luzes.
A luz da fé.

Por isso neste natal
Mais que presentes é preciso distribuir amor.
É preciso abraçar nossos amigos.
Dividir a nossa mesa com aqueles que têm fome.
É preciso amar nossas famílias.
Caminhar com os nossos filhos.
Reaprender a doçura de sentir.
Sentir como é bom estar vivo.
Sentir como é bom ter um lar.
Sentir a grandeza do amor de Deus
Por meio do presente maior que poderia nos ser dado:
Seu filho Jesus.

E cada um que está aqui esta noite,
Cada homem, cada mulher
Que entende que o natal não é consumo... é doação.
Que entende que o natal não é uma data... é celebração.
Que sente o coração encher-se de esperança,
Tem a obrigação de ensinar nossas crianças
O valor da fé, da amizade, da solidariedade
E celebrar o nascimento de Jesus.
Que nasceu para que o mundo fosse melhor.
Que nasceu para que o mundo fosse amor.

Aluísio Jr.

Aluísio é um amigo iluminado, sua presença tem me ensinado tantas coisas boas... agradeço a Deus, querido, pelo singelo presente "de natal" que me deu este ano: você!

*grifo meu

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Paz e Comunhão


Cuida do passarinho e também da flor
Eles esperam pelo teu amor
Faz do teu lar um ninho e do mundo um chão
Onde se plante paz e comunhão
Para que brote e cresça a mais viva semente
Para que a gente tenha o que colher
Para que o pão que venha a ser por nós assado
Seja sinal traçado de viver

Faz tua nova casa na varanda do velho chão
Convida teu irmão pra vir morar contigo
Planta paredes novas feitas para servir de lar e abrigo

Faz um café gostoso
Põe a mesa no teu jardim
Deixa que assim as plantas tenham paz contigo
Convida o universo
Faz a vida ganhar maior sentido

Cuida da tua morada
Cuida do pequeno mundo
Deixa teu irmão bem perto, livre...



Autor: Gladir Cabral

Essa foto aí de cima relembra minha infância querida, tão bem vivida aqui no sítio dos meus avós. Aí estão eu (a cabecinha lá no alto) e meus irmãos, primos... pequenos e felizes... entre as folhas das plantas. A vida era só brincadeira!!! A Deus minha profunda gratidão.

Confiar em Ti...

Confiar em ti, desafiar o desespero e acreditar no teu silêncio.
Procurar nas densas névoas da maldade humana e encontrar um fio de luz que emane o bem.
Fazer-me como louco em disparada rumo ao nada que se esconde por trás do horizonte.
Viver tranquilamente no lugar onde habita as tempestades, esperar que tua voz cale o mundo e abra os céus.
Colocar a verdade em prática, apresentá-la em meus olhos marejados, meus labios em oração confusa, minha mente em extase de amor por ti.
Fazer de Ti minha grande alegria, encarar o desafio diário de deixar o ordinário ser ordinário e o divino meu precioso relicário.
Deixar em tuas mãos tudo o que eu fizer. Realizar a partir de Ti.
Descansar no Senhor, esperar pacientemente sua ação, aquietar-me para ouvi-lo, fechar os olhos para vê-lo, calar-me para falar o que Ele deseja que eu fale.
Deixar de lado a raiva e abandonar toda ira, esquecer meu apego à essas duas inconseqüentes. Avaliar melhor minhas companhias, quem sabe, fazer amizade com a bondade.
Eduardo Cruz

sábado, 17 de novembro de 2007

Sobre Música Cristã 2 - e outras coisas mais...


É PROIBIDO PENSAR





PROCURO ALGUEM PRA RESOLVER MEU PROBLEMA,
POIS NÃO CONSIGO ME ENCAIXAR NESSE ESQUEMA,
SÃO SEMPRE VARIAÇOES DO MESMO TEMA,
MERAS REPETIÇÕES...

A EXTRAVAGANCIA VEM DE TODOS OS LADOS,
E FAZ CHOVER PROFETAS APAIXONADOS,
MORRENDO EM PÉ,ROMPENDO EM FÉ DOS CANSADOS
QUE OUVEM SUAS CANÇÕES...

ESTAR DE BEM COM A VIDA É MUITO MAIS QUE RENASCER...
DEUS JA ME DEU SUA PALAVRA..E É POR ELA QUE EU AINDA GUIO MEU VIVER!



RECONSTRUINDO O QUE JESUS DERRUBOU
RECONSTURANDO O VÉU QUE A CRUZ JA RASGOU
RESSUSCITANDO A LEI, PISANDO NA GRAÇA, NEGOCIANDO COM DEUS!

NO SHOW DA FÉ MILAGRE É TÃO NATURAL,
QUE ATÉ PREGAR COM A MESMA VOZ É NORMAL
NESSE EVANGELIQUÊS UNIVERSAL....SE APOSSANDO DOS CÉUS!

ESTÃO DISTANTES DO TRONO, CAÇADORES DE DEUS AO SOM DE UM SHOFAR.
E MAIS UM ÍDOLO IMPORTADO DITA AS REGRAS PARA NOS ESCRAVIZAR:
É PROIBIDO PENSAR !!!



João Alexandre

domingo, 11 de novembro de 2007

O Senhor das Estórias 2 - O homem sem pecados e a prostituta



O Senhor das Estórias olhava com desconfiança para as pessoas religiosas. E olhava com grande compaixão aqueles que os religiosos desprezavam como "pecadores". Vendo um homem religioso e arrogante que se gabava de suas virtudes, ele contou a seguinte parábola:

"Era uma vez um homem que subiu ao templo para orar. Era homem de muitas posses e que observava rigorosamente todos os preceitos da sua religião. Era um homem sem pecados. Subiu também ao templo com propósito de orar uma meretriz que ganhava o seu pão com a prostituição. Ela era uma pecadora. O homem religioso, de pé, orava de si para si desta forma:'Ó, Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, ladrões, injustos e adúlteros, nem como essa prostituta desprezível. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho'.

"A prostituta, ao longe, não ousava nem mesmo levantar os seus olhos aos céus, mas batia no peito dizendo: ' Ó, Deus, tem dó de mim, pecadora...' A prostituta voltou para sua casa em paz com Deus. Mas não o homem religioso..."

E, voltando-se para os homens que se gabavam de sua santidade reunidos ao seu redor, disse: "As prostitutas entrarão nos céus antes de vocês...".

Rubem Alves

domingo, 4 de novembro de 2007

Refletindo Educação 2 (Parábola da Menina de Rua)





Certa vez me perguntaram o que achava do sistema de cotas para negros, pobres, deficientes... nas universidades. Disse que ainda não tinha uma opinião formada a respeito, e pedi um tempo pra pensar. Foi quando me veio a mente uma parábola que pode explicar minha postura.



Imagine uma criança pedinte (uma menina) largada nas ruas do centro de uma grande cidade. Os primeiros raios da manhã esbarram violentamente em seu rosto forçando-lhe acordar. Ela está faminta. Não come nada desde o dia anterior, a não ser umas migalhas que catou das sobras dos suntuosos restaurantes por que passou. Seu corpo subnutrido e maltratado pelos seguidos anos de abandono ainda tem vigor pra levantar e ir a padaria mais próxima apelar ao "desencargo de consciência" dos melhor favorecidos que lhe ceda um pedaço de "pão dormido". E mais, com uma estranha alegria (falo estranha porque só uma criança e seu espírito lúdico peculiar podem achar espaço pra alegria em meio a uma situação tão dolorosa) a criança ainda ensaia umas graças e uns malabarismos no semáforo da esquina e consegue assim "alguns trocados pra dar garantia" como diria o poeta Cazuza. Mas, voltando à padaria, o padeiro (tão ocupado que estava com as entregas diárias e seu respectivo faturamento) retira um pirulito da bomboniere ao lado da máquina-caixa e dá a menina, dizendo satisfeito a si mesmo: Fiz minha boa-ação de hoje. Essa aí já não morre de fome por minha culpa!



O pensamento do padeiro não está de todo errado. Talvez a garota realmente não morra de fome nesse dia. Entretanto, o bombom não resolve o problema da subnutrição e da falta de cuidados advindas de anos de descaso. Seu desenvolvimento orgânico permanecerá comprometido, suas defesas imunológicas baixas, continuirá a mercê da miséria e da prostituição servindo aos interesses dos "programas" que compram a escravidão do seu corpo.



O pirulito, na melhor das hipóteses, adia sua morte, mas limpa a consciência do padeiro quando este joga sua responsabilidade pra debaixo do tapete.



A menina representa a educaçaõ pública brasileira; o padeiro, o Estado e a sociedade em geral; o pirulito, as cotas; a estranha alegria, a sociedade civil organizada que protesta contra a falta de qualidade no ensino, o sucateamento das universidades, a desvalorização do profissional da educação, a pouca oferta de vagas no ensino superior, o vestibular excludente e, sobretudo: a estranha alegria representa a esperança dos educadores que apesar de tudo não cruzam os braços e estão "fazendo acontecer" com os pedaços de pão dormido, os trocados ofertados nos sinais, os restos de comida dos restaurantes suntuosos...



Não quero dizer com isso que sou contra o sistema de cotas nas universidades. Jamais impediria o comerciante de entregar o bombom para a Educação-menina, ou desdenharia de sua atitude. Como negar pão a quem tem fome? Deus me guarde!



"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Esperança


Apesar de sonhar até mesmo o impossível. Apesar de sorrir sem ao menos ter motivos. Apesar de cantar para disfarçar o pranto. Continuo a afirmar que a felicidade existe... Apesar de acreditar e às vezes ser traído. Apesar de gostar e não ser correspondido. Apesar de falar e não ser compreendido. Continuo a acreditar que a amizade existe... Apesar do sol nem sempre estar presente. Apesar da brisa transformar-se em vento forte. Apesar da chuva muitas vezes ser agressiva. Continuo a admirar o esplendor da natureza... Apesar de conviver com tantas dúvidas. Apesar de me perder nas incertezas. Apesar de viver em eterna busca. Continuo a agradecer o dom da vida!!!


Autor desconhecido

sábado, 6 de outubro de 2007

Saudade do Céu...


Da linda Pátria estou bem longe
Cansado estou
Eu tenho de Jesus saudade
Oh, quando é que eu vou?
Passarinhos, belas flores
Querem me encantar
São vãos terrestres esplendores
Mas contemplo meu Lar!

Jesus me deu a Sua promessa
Me vem buscar
Meu coração está com pressa
Eu quero já voar
Meus pecados foram muitos
Mui culpado sou
Porém Seu sangua põe-me limpo
Eu para Pátria vou!

Qual filho de seu Lar saudoso eu quero ir
Qual passarinho para o ninho
Pra os braços Seus fugir
É Fiel - Sua vinda é certa
Quando eu não sei
Mas Ele manda estar alerta
Do exílio voltarei!

Sua vinda aguardo eu cantando
meu Lar no céu
Seus passos hei de ouvir soando
Além do escuro véu
Passarinhos, belas flores
Querem me encantar
São vãos terrestres esplendores
Mas contemplo o meu Lar!

Justus H. Nelson

Foi a Marlene, amiga e esposa do meu querido Eduardo, quem me apresentou esse hino pela primeira vez... E foi amor à primeira vista! Desde então, sempre que tenho saudades do Céu, me pego cantarolando a doce melodia. Valeu, Marlene!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Sede perfeitos..."


No seu maravilhoso e irreverente Sermão da Montanha, o Mestre dos Mestres nos ensina lições valiosíssimas a respeito de um Reino de Amor que se instalava no coração de muitos desde Sua vinda ao mundo tempestuoso dos humanos.

Digo maravilhoso, por que mais do que em qualquer outro discurso, o meigo Nazareno imprime à sua narrativa um tom quase poético e, por isso mesmo, belíssimo! Em certa altura de seu depoimento ele diz:

Não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais que o mantimento, e o corpo, mais que a vestimenta? Olhai para as aves do céu! Não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?... Olhai para os lírios do campo! Como eles crescem! Não trabalham nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão em toda sua glória, se vestiu como qualquer deles. E, se Deus assim veste assim a erva do campo, também não vos vestirá a vós, homens de pequena fé?

Ah... esse é um dos textos cristãos em que a sensação da Beleza (como diria Rubem Alves) mais me invade a alma, destronando meus medos interiores!

Irreverente, porque Jesus rompe com a religiosidade hipócrita e rancorosa da época em muitos momentos. Quando, por exemplo, ele dispara:

Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz com que seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.

E aqui é exatamente onde quero chegar. Ao final dessa fala, o Cristo nos revela uma importante mensagem. Talvez o tema central da sua vida e de seu testemunho aos homens. Jesus diz: Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai. Ao contrário do que muitos podem pensar, Jesus não está insinuando que para sermos como Deus, nossa vida não pode ter falhas, tampouco querendo nos impor o código moral do seu Sermão como um conjunto engessado de regras que, se não obedecidas, nos levarão ao desapontamento do Pai para conosco. Quando lemos esse mesmo texto narrado por São Lucas, podemos descobrir, finalmente o que o Filho de Deus quer nos mostrar. Em Lc 6: 36, o versículo de Mt 5: 48 (sede perfeitos...) é lido assim:

Sede, pois, misericórdiosos, como também vosso Pai é misericordioso.

A perfeição a que o Senhor se refere é a perfeição do Amor. Deus é Amor! E, se quisermos, nos parecer com Ele, deve ser cultivada em nós a compaixão pelo próximo, dom que é Ele mesmo quem nos dá quando nos abrimos para um relacionamento com Deus.

São Tiago chega a firmar em sua epístola sagrada: A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo. A vida de Jesus, como diz Brenna Manning, é um exemplo claro de que ser cristão é exercer o dom da compaixão. É não perder a capacidade de indignar-se com as injustiças. A sensibilidade ao sofrimento humano é o que nos faz mais parecidos com Deus. Afinal, não foi assim que Ele nos salvou? Identificando-se tanto com nossoas dores ao ponto de tornar-se um de nós para sofrê-las em nosso lugar, morrer e ressucitar, mostrando-nos que mesmo apesar da morte ainda podemos ter esperança?

Certa vez me perguntaram em que momento do culto dominical eu sentia mais forte a presença de Deus. Repondi, de início, que não sabia. Fui pra casa, entretanto, pensando na questão... e ao analisar algumas situações em que já senti a presença divina, encontrei a resposta:

-Em nenhum momento do culto, respondi numa outra oportunidade. O instante em que mais sinto o aconchegante calor divino queimar minha alma é quando tenho a chance de ajudar alguém que precisa de mim. Quando percebo que o Pai coloca alguém diante de mim, em geral as crianças da escola em que trabalho, para compartilhar Seu amor; quando me compadeço do choro do meu irmão (e, não poucas vezes, eu posso até estar pior que o irmão) e a misericórdia de Deus me impulsiona a oferecer o ombro pra ele molhar. Sim, é nesse momento que sinto a preciosa comunhão com Deus. Algo parecido com o que Jesus falou: "...para que vocês sejam um comigo, como eu sou um com o Pai."


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Filme



Filme: PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO


com Robbin Williams

Você já ouviu falar nos “Médicos da Alegria” ou na “Terapia do Riso” em hospitais? Já foi abordado no ônibus por uns “palhaços” vendendo lindos cartões pra financiar esses movimentos? Pois é, um dos pioneiros dessa idéia foi o Dr. Patch Adams. O médico percebeu que a medicina, mais que adiar a morte em pacientes terminais, deveria preocupar-se com a qualidade de vida dessas pessoas dentro dos próprios hospitais, transformando o ambiente hospitalar tradicionalmente frio e triste em um espaço de calor humano e alegria.
O filme trás um pouco da história do doutor e de seu reencontro com a vida quando internou-se voluntariamente numa clínica psiquiatrica depois de ter tentado duas vezes o suicídio por não ver mais sentido em sua existência. E foi lá que ele descobriu que o sentido de viver está no AMOR, que ajudar o próximo é a melhor maneira de ajudar a si mesmo e de aproximar-se de Deus.
A atuação do Robbin Williams é sensível, mas sem perder a medida certa da emoção, o que faz que a película dessa história tão comovente não caia no emocionalismo “meloso” e infrutífero de alguns dramas do gênero. Pelo contrário, depois de assistí-lo, a gente sai com uma vontade pulsante de fazer o bem!

“SER SOLIDÁRIO É AGRADAR A DEUS.”, tema do grupo Simples de Coração que desenvolve atividades semelhantes a do Dr. Patch Adams, levando alegria e amor a crianças com câncer no Ceará.

Sugestão de Leitura 4



Livro: COMO O NASCER DO SOL
Autor: Eduardo Cruz
Editora: Premius

Como o Nascer do Sol é um livro que fala de esperança. Longe de ser um livro de auto-ajuda, o autor traz (num tom quase poético) reflexões sobre o referido tema dentro das mais variadas manifestações do sofrimento humano. Tudo sob o ponto de vista de um cristianismo livre da maquiagem pesada com que tem sido irresponsavelmente exposto em nossos dias. E neste sentido, o livro é um bálsamo pra alma.
O autor faz parte da nova safra de talentosos escritores cristãos cearenses que passam longe da teologia engessada e impessoal dos ortodoxos e que, por isso, conseguem alcançar o coração das pessoas de forma mais profunda e verdadeira.
Eduardo é caucaiense, pastor da PIB Planalto Caucaia, pastor-presidente das igrejas Crossroads no Brasil, “acredita na simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo e crê que quando este é experimentado e vivenciado, pode operar profundas transformações na existência do ser humano”.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Fora de Tempo

Vez por outra alguém ainda comenta comigo em tom de deboche contra o presidente Lula (pois sabe que sempre fui simpatizante de Luiz Inácio, embora hoje bem menos fervoroso) sobre o que aconteceu com ele na abertura do Pan do Rio. Ainda que repeite a insatisfação da população diante do governo petista, achei uma tremenda falta de educação o episódio das vaias. Sei que está fora de tempo falar sobre isso, mas em todo caso, a opinião da amiga e escritora Rosane de Castro (amo essa mulher!) ainda é a que me parece mais lúcida e coerente:
"Depois da vaia que o Presidente Lula recebeu na aberturas do Pan, o Rio de Janeiro (pelo menos para mim) não continua lindo. Não consigo entender o que esporte tem a ver com política. Que hora infeliz, meu Deus, para se fazer protesto, e que maneira deselegante de fazer protesto tão inoportuno.Imagino o que os outros países estão pensando de nós.O Presidente Lula é uma autoridade, queiram ou não, e deve ser respeitado. Existem momentos que ideologias políticas não podem estar á frente do comportamento humano. Na Europa, quando a população quer demonstrar que não aceita o pensamento ou o comportamento de algum político, simplesmente não o aplaude quando o mesmo se pronuncia. Além de ser elegante e educado, o silêncio pode ainda ser mais forte e falar mais alto que a vaia.Fiquei com muita vergonha. Vaia é coisa de moleque. Nem mesmo a presença do governo paralelo carioca (o tráfico) conseguiu manchar a imagem do Rio como aquela maldita vaia. Foi desumano, não se humilha um presidente dessa maneira.Não consigo mais ver o Cristo Redentor de braços abertos. O Cartão-Postal carioca mudou e pra bem pior."

sábado, 15 de setembro de 2007

Hoje, a tristeza...


Hoje a tristeza é triste
Não quer sair pra ver os amigos
Nem ver o pôr do sol

Hoje a tristeza é fria
Não quer calor humano
Quer me esconder congelado e invisível
Dentro, bem dentro de uma grande geleira

Hoje a tristeza é profunda
Tão profunda que não consegue chegar aos olhos e molhar
É seca

Deus, venha depressa
Meu coração está inquieto e tem pressa
Venha correndo
Se ponha em mim
Me aqueça
E me molhe...Ah! Me molhe...

Sem Ti, minha solidão será inconsolável
E meus medos me consumirão.

Hoje, a tristeza quer ser amanhã e depois ainda
E ficar...

Ao som do cd TEMPESTADE do Renato Russo, alguém cuja musicalidade e tristeza reveladas neste disco tenho me identificado tanto hoje...

Sugestão de Leitura 3


Livro: A Volta do Filho Pródigo
Autor: Henri Nouwen
Editora: Paulinas

Henri Nouwen é desses autores que escrevem com o coração na ponta da caneta.
A Volta do Filho Pródigo, das suas últimas obras, retrata muito da sua trajetória espiritual, que culmina com uma interessantíssima descoberta enquanto cuidava de uma comunidade de deficientes mentais: mais do que nos mostrar a história do jovem que trocou a casa do Pai pelos atrativos efêmeros da vida ou a orgulhosa "santidade" de quem ficou em casa e ainda assim permaneceu desencontrado no próprio lar (uma dessas certamente é a nossa história), o que Deus quer revelar-nos é Sua vontade de sermos acolhedores e compassivos como o pai da parábola (figura do Pai celestial) para quantos filhos pródigos Ele nos enviar. A própria vida de Jesus sugere que ser como o Pai é mostrar compaixão.
Através da observação do quadro que Rembrant pintou da comovente narrativa de Jesus, Nouwen faz uma viagem maravilhosa por dentro de si mesmo, de seu relacionamento com o Pai e, sem pedir licença, nos deixa completamente nus diante de nós mesmos e de Deus.

sábado, 8 de setembro de 2007

Carta para Caio Fábio sobre o casamento homossexual e a respectiva resposta.


CAIO, E O PROBLEMA ENTRE A IGREJA E OS HOMOSSEXUAIS? Mensagem: Amado Caio, Moro em Boston; e aqui em Massachusets legalizaram o casamento de homossexuais; começou no dia 17 de maio. Nesse mesmo dia pela manha eu estava dirigindo para o trabalho e me lembrei disto; de repente me deu uma tristeza muito grande, um desejo profundo de orar; então orei ao PAI por todos aqueles que se "casariam" naquele dia, e também pelos legisladores do estado. Algumas igrejas brasileiras e americanas fizeram vigília em frente ao Forum nos dias de votação desta lei. As igrejas estão mesmo indignadas com tudo isso. Você crê que existe mesmo motivo para tanto? Como você acha que deveríamos reagir a isto como IGREJA? A Bíblia diz:”Não vos conformeis com este mundo...”; mas, como tenho aprendido (e muito) aqui no site, homossexualidade não é uma questão de "possessão", como a igreja geralmente "afirma". O que fazer? Sabe Caio, gostaria de poder descansar, de não me entristecer por isso tudo; (a igreja e os homossexuais, etc...); mas, sinceramente, não consigo. E as leis dos homens, podem mesmo trazer conseqüência para toda uma nação, quando estas vão explicitamente contra os princípios bíblicos? Eu tento compreender a grandeza e poder de alcance da GRACA, mas a GRACA só é para quem crê em JESUS, não e mesmo? Temo por essas pessoas, de verdade! O SENHOR fez bastante para salvar Ninive, mas não poupou Sodoma e Gomorra; não temo pela cidade, estado ou até mesmo a nação, mas por estas pessoas. Sei lá... O que você pensa de tudo isto pastor? Desde já, um beijo no seu coração... Edicarlo

____________________________________________________________


Resposta:

Meu querido amigo Edi: Graça e Paz! Você consegue ver Jesus na porta de tribunais fazendo protesto porque as leis deste mundo não são como os princípios do Reino de Deus? Ora, quando Ele esteve no Tribunal não respondeu nem mesmo o que era a Verdade! Esse clamor não vem de Jesus, mas do ladrão amargurado: “Se és o Filho de Deus, salva-te a ti mesmo e a nós também!” Se Deus fosse olhar essas questões apenas quando uma lei passasse, meu Deus, o melhor seria não fazer leis. Essas leis regulamentam relações humanas; e entre elas há leis boas e leis más; mas a igreja só tem interesse naquilo que diz respeito à Moral; pois no que diz respeito às injustiças ela sempre fica do lado mais forte. Quem quiser lutar contra essa lei, faça-o em seu próprio nome, mas não o faça levando o nome de cristão, visto que tal comportamento tanto não condiz com Jesus, como também não se o vê nos apóstolos. Só pensa assim aquele para quem o reino de Deus é neste mundo; e vem com visível aparência! Essa igreja que vai fazer protestos na porta do Forum foi criada não por Jesus, mas por Constantino, em 332. Antes disso, para os discípulos de Jesus, cabia viver o Evangelho; e eram as leis dos homens que iam contra os discípulos. Veja que diferença! Em Roma era elegante ser gay. Mesmo quem não era, muitas vezes praticava; não era algo Legal, mas era Moralmente aceito, e até estimulado; pois, em muitas ocasiões, isso fez parte da melhor educação de um homem. E o que os discípulos fizeram? Fizeram passeatas e protestos? Não se conformar com este mundo começa por não acreditar que os meios deste mundo sirvam à causa do Reino de Deus! O Caminho de Jesus é outro: “Se o meu reino fosse deste mundo...os meus ministros se empenhariam para que eu não fosse entregue...Mas, agora, o meu reino não é daqui”, disse o Senhor. O único tipo de protesto da igreja deveria SER aquele que Jesus ensinou, e Gandhi praticou; não nós. Ou seja: esmagar os adversários da verdade com amor e graça, sem medo, sem moralismos, e sem ódio...e com a resistência de quem não resiste...porém não negocia a consciência: são as armas da justiça. E mais: quando tem que ser assim, todavia, as causas não são jamais essas...e os meios jamais são esses...não em nome de Deus! Para mim tudo isto é bobagem; são os mortos sepultando os seus próprios mortos. Tanto quem briga de um lado como quem briga do outro labora em engano. Ambos os grupos são infantis quando tornam isto uma questão religiosa, como acontece com a criação de igrejas-gay, o que a meu ver é bobagem também; pois a Igreja deveria ser, no mínimo, uma Cidade de Refúgio, um lugar onde as leis cessassem a fim de que os homens pudessem tomar fôlego! Por isto, ouço Jesus dizer: “Quanto a ti, vai e prega vai reino de Deus!” Não se conformar com este século, é renovar o entendimento, conforme o Evangelho da Graça. Não é nada além disso. Não nos leva com "placas na mão" a nenhum lugar de protesto, mas nos põe no chão da vida com um olhar de misericórdia. Meu Deus! A Graça é só para cristãos? Ora, de acordo com Jesus quem pensa assim são os pagãos; pois amam apenas os amigos e os iguais. A Graça é para o mundo; para maus e bons; para justos e injustos; pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. O problema é que a “igreja” se alimenta de ressentimento, e ódio moralista e legalista; não do espírito da Graça, conforme o Evangelho. De fato, isto só acontece assim porque a “igreja” crê que o reino é deste mundo. É por isso que a “igreja” busca poder na terra. Quem gosta de uma religião de poder terreno, deve deixar de confessar a fé em Jesus, e entrar na briga pela posse da Terra com os mulçumanos; ou com qualquer outro grupo ou partido político ou religioso. Jesus não veio fundar uma Teocracia. Ele não é o Xeique Jesus de Nazaré. Ele não labora nem na causa de Bin Laden e nem na do Rev. Jerry Fawell, da maioria moral americana. A Igreja americana é católica em suas aspirações de poder. Os Protestantes americanos crêem que a América é uma Teocracia, ao mesmo tempo em que querem que ela seja uma Democracia. Pura contradição de termos e conteúdos! Eu não creio em teocracias. Eu creio no Reino de Deus, e que hoje está entre nós; porém, sem visível aparência; visto que está em nós...e se manifesta por gestos e palavras de amor, justiça, misericórdia e Graça. O poder da Igreja vem da subversão pelo amor! Foi isto que Jesus ensinou; e é isto no que creio! O resto, para mim, é fruto ainda da Síndrome de Constantino; um mal aparentemente sem cura na "igreja"; pois é uma espécie de "Aids da igreja”, visto que a deixou vulnerável a tudo; e com uma consciência moralista tão infantil quanto a dos terroristas que em nome de Deus estão tentando mudar o mundo. Todas essas coisas são filhas do ódio, não do amor! Quem quiser discordar, discorde; mas discorde em nome da "Moral", não do Evangelho; e se desejar ir...que vá em seu próprio nome, e em nome de suas próprias ambições e morais arrogantes; mas, pelo amor de Deus, não vá em nome de Jesus; pois é abominação; e é um mal maior do que aquele pretendem combater como mal. Enquanto a “igreja” não entender que o mal é o ódio e a indignação vingativa, ela será apenas agente de Satanás, mesmo pensando que serve a Deus. Todo acusador de homens não trabalha para Deus. Os profetas de Israel falavam coisas em nome de Deus para uma nação que havia feito um pacto com Deus. Este tempo acabou. O Evangelho diluiu de vez esse geografismo santo; e nos pôs a todos com a missão de peregrinos e estrangeiros, servindo a Deus em todas as nações, anunciando a Boa Nova; e sem nenhuma ambição por poder terreno; não para a Igreja. Sendo do Evangelho, nem mais Protestante eu sou. Não tenho um Protesto, tenho uma Proposta; e essa é a Boa Nova. Se quisermos ainda ser ouvidos pelo mundo, temos que nos convencer de vez que o mundo não vai na nossa conversa; seja ela qual for; venha ela como vier. Jesus disse que o único poder capaz de esmagar o mundo, e calá-lo, é o amor (Jô 17). E quanto aos gays, são gente também, como as prostitutas, os pastores, e os demais pecadores da Terra. Todos igualmente carentes da glória de Deus. E sobre se tais leis mudam a nação, lhe digo que não. Essa é uma lei de concessão, não de dever. E não conheço ninguém que faça tal opção só por fazer. Os que chamam isto de “opção” deveriam fazer outra opção, visto que se é só escolha, que escolham, então, o melhor para si mesmos; e certamente “escolher” ser gay é um imenso problema para a existência de qualquer um; vide o que você mesmo constata como resposta de ódio a tal “opção”. A questão é que há muitos para os quais isto nunca foi uma “opção”, mas sempre foi um fato-inato. E eu não me preocupo com isto mais do que me preocupo com qualquer outra coisa, visto que creio que Deus sabe como lidar com gays; pois vejo-o lidando com gente como eu, que pertence uma classe muito mais perniciosa, a dos pastores... Sim! os pastores! Jesus disse que quem ensina errado, e se arroga a ser mestre, receberá muito mais sério juízo; especialmente se o que ensinou não foi misericórdia! Pobres dos credores incompassivos, esquecidos de sua própria dívida imensa; incapazes de usar de misericórdia, conforme a misericórdia recebida! Quem prega o Evangelho, não prega Lei. Quem prega Lei, não prega o Evangelho. E quem crê no Reino de Deus, sabe que tem muito mais o que fazer do que ser satanás de quem quer que seja. Afinal, a questão das questões não é: “Eu era heterossexual, e tu me defendeste; eu era senador, e tu me apoiaste; eu era um cristão, e defendeste as leis do estado em favor dos interesses da igreja...” Ao contrário, a questão é bem outra, e não nos envia aos Fóruns, em nome de Deus, a fim de defender nenhuma moral; mas nos põe em lugares onde a “igreja” não tem muito prazer em freqüentar, e realizando missões que ela também costuma menosprezar: “...estive nu, e me vestiste; enfermo, e foste ver-me; preso, e foste visitar-me; sem teto, e me acolheste...” Este é o Evangelho de Jesus. O Resto é Cristianismo, a Religião de Constantino! Nele, que mandou chamar a todos—maus e bons—para a Ceia do Filho (Mt 22),

Caio


___________________________________________________________________


Postei sobre o assunto porque já me perguntaram sobre... E a resposta de Caio foi a mais lúcida e sensata que eu achei. Quem me interpelar a respeito, não me ouvirá defender nenhum dos lados em nome de Deus. Como cristão, o que tenho a dizer às pessoas vai para muito além disso. Não quero ter ao meu redor o ódio e o rancor por defender qualquer das posições, pretendo falar e oferecer o amor de Deus a quem precisar de mim. Como cidadão, minha opinião é que num estado democrático todos têm o direito de lutar pelos seus direitos.

Nada mais a falar.

Opinião: A Parada Gay



A Parada é interessante e expressiva (pelo menos visualmente). É um grito considerável das minorias, aliás, nem sei se minorias, sabe... 3 milhões de pessoas na Paulista é o Carnaval (festa da maioria), porém está claro que o movimento perdeu muito da sua relevância social de fato. Hj há muito mais interesse econômico que ideológico. Confesso que queria ver tantas personalidades políticas, econômicas e até "intelectuais" apoiarem, com o mesmo afinco q apóiam a Parada, projetos sociais para minimizar nossas desigualdades... e mais: gostaria de ver os gays se engajando de maneira mais convincente nessas mesmas questões, deixando assim, um legado muito mais relevante pro nosso país do que simplesmente o fato de mostrarem que EXISTEM e devem ser respeitados enquanto opção de vida. Sei que isso é fundamental, mas a contribuição seria ainda mais significativa ao se conquistar a capacidade de pensar para além dos "guetos" gays e de si mesmo. Não sou contra a Parada, mas ela precisa ser mais que uma micareta!

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Narcisismo às Avessas


Quem poderá um dia me entender?
Quem terá a noção exata dos meus sentimentos?
Será que poderei um dia fazer ouvir com clareza a voz mais íntima do coração?
Parece que vagueio entre uma multidão de estranhos, de amados desconhecidos
De surdos tão queridos,
Que não podem me ouvir.
Aí tenho a sensação de que para ser ouvido preciso ouví-los primeiro.

Quem vai parar e olhar pra mim?
Quem pode abraçar minha alma agora?
Será que alguém pode caminhar comigo o meu caminho, sem pedir algo em troca?
Parece que as pessoas que abraço estão a "anos luz" de mim, e eu delas.
Ah, meu coração e suas esperas.
Espera, espera...
Aí me vem a mente que para achar o rumo, preciso sair do meu caminho
E caminhar junto.

Sair de mim.






Sobre Música Cristã 1



Eu sinto enorme pesar em ver a situação atual da música cristã em nosso país. As letras são de baixíssimo conteúdo (aquelas q têm algum!), poesia já não existe e relevância nenhuma pro mundo em que vivemos. Não tratam de questões sociais importantes, num grau de alienação nunca antes visto. Se junta à pobreza artística e aos modismos estéreis que contaminam a música popular em geral... Saudade dos tempos de Janires e Sérgio Pimenta... Contudo inda podemos atracar em pequenas ilhas no grande oceano da mediocridade reinante: Ilha de São Carlinhos Veiga, Logos (que de tão calmo, sereno e tranquilo parece localizar-se no Pacífico, rsss), Ilha de São João (Alexandre), e o arquipélago de Vencedores por Cristo (com destaque para as ilhas gêmeas de Cintia e Silvia)... Ainda assim, acho que os músicos cristãos brasileiros poderiam ousar mais, serem mais contundentes... mas entendo que talvez nossas igrejas ainda não sejam capazes de dar ouvidos a mensagens que não fortaleçam seus interesses institucionais mesquinhos, estando submersas no oceano tenebroso que citei acima...

Bem, galera, talvez eu tenha sido exageradamente enfático em minha explanação, mas tá valendo pelo menos pra iniciar de maneira provocante o nosso debate! Comentem.Valeu!


segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,
estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Álvaro de Campos

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Te vejo Poeta


Te vejo, Poeta
quando nasce o dia
e no fim do dia, quando a noite vem
Te vejo, Poeta
na flor escondida,
no vento que instiga mais um temporal
Te vejo, Poeta
no andar das pessoas,
nessas coisas boas que a vida me dá
Te vejo, Poeta
na velha amizade,
na imensa saudade que trago de lá

Contudo um poema, Tua obra de arte
destaca-se à parte numa cruz vulgar
Custando o suplício de Teu Filho amado
Mais alta expressão do ato de amar


João Alexandre e Guilherme Kerr

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Poema em Linha Reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paci~encia pra tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos- mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa


terça-feira, 28 de agosto de 2007

Vírgula


quem tem posto o rosto perto d'água, não me tem visto diretamente (como se isso fosse possível aos humanos!).

É que tenho trabalhado muito esses dias e não tenho conseguido parar pra escrever (produzir) coisa alguma.

Sim, é uma vírgula no blog!

Enquanto essa pausa rápida (espero) se estende, vou pondo outros reflexos na água, outros rostos, que também revelam outros traços (vírgulas, talvez) de mim. São textos que me emocionam sempre...

Até o fim da pausa...
P.S.: Vocês perceberam a quantidade de parênteses que eu pus no texto?! Ele bem que poderia se chamar PARÊNTESES em vez de VÍRGULA, né?! rsss...

Passagem das Horas

Não sei sentir, não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,
meus irmãos na terra.
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente.
Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos,
Seja como for... a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas, de todas as sacadas
e ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.

Álvaro de Campos

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Onde está Deus?


Onde está Deus?
Está nos guetos do mundo, contemplando a coragem dos justos.

Está no povo oprimido pela fome, observando a ousadia de viver destes.

Está na mãe solteira trabalhando o dia inteiro e encontrando tempo pra brincar com seu filho a noite.

Está no pai de familia assalariado que compra, com muito sacrificio, uma barra de chocolate pra ter o prazer de ver o sorriso dos filhos.

Está no bêbado que pede socorro numa sala de Alcoolicos Anônimos.

Está no jovem drogado que pede uma luz sem esperança de vê-la.

Onde está Deus?

Não está na igreja se esta parece não carecer de sua presença por se achar santa demais.

Não está nos corações orgulhosos mas, nos quebrantados, espatifados pela vida e pelo pecado.

Deus se faz presente na vida destes, aproxima-se na ânsia de ser notado.

Deus é um médico da alma, e como é comum nas batalhas, aproxima-se dos feridos para que estes possam sobreviver.


Eduardo Cruz

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Vilarejo


Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão

Terra de heróis
Lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal

Peitos fartos
Filhos fortes
Sonho semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestina... Shangrilá

Vem andar e voa.

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar
Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos e essa canção
Tem um verdadeiro amor para quando você for!


Marisa Monte, Pedro Baby, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes


Sempre que ouço essa canção, meu coração se enche de variados sentimentos (e essa é a riqueza da obra artística!). Um deles é a saudade que tenho da Plenitude, do Amor Perfeito, do Céu; outro é a vontade em forma de oração para que a descrição do "vilarejo" seja também a imagem da Igreja de Cristo e do mundo todo como sua extensão: um espaço de amor, compreensão, tolerância e beleza, onde todos possam andar e voar como águias na direção do Sol! O vídeo talvez revele com mais exatidão a mensagem de esperança dessa canção para um mundo tão sêco de Amor e Verdade: http://www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48

sábado, 11 de agosto de 2007

Deus é Pai (homenagem aos pais no seu dia)


Quando o sol ainda não havia cessado seu brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos
As cores do dia e despejava sobre a terra
Os primeiros retalhos de sombra
Eu vi que Deus veio assentar-se
Perto do fogão de lenha da minha casa
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça
E buscou um copo de água no pote de barro
Que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado
Parecia imerso na alegria que é própria
De quem cumpriu a sina do dia e que agora
Recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.
Eu o olhava e pensava:
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida
Em que tenho direito de ter um Deus só pra mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso
E pedir que ele desenhasse um relógio
Bem bonito no meu braço
Mas aquele homem não era Deus,
Aquele homem era meu pai
E foi assim que eu descobri
Que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus
Revela-me Deus com seu
Jeito infinito de ser Pai.


Pe. Fábio de Melo

Refletindo Educação 1 (Pais e Filhos)



Marina e Léo





Uma querida amiga, a quem vou referir-me pelo fictício nome Marina, ia conversando comigo a respeito de sua preocupação com Léo (outro pseudônimo), seu filho, enquanto voltávamos do trabalho.

Léo, dizia ela, andava muito rebelde nos últimos tempos. Sim, eram os anos rebeldes da adolescência. Aliás, em qual faixa etária começa realmente esse período, heim?! Minha mãe me diz que nunca passou por "esse negócio de adolescência", simplesmente porque esse termo nem existia no universo vocabular dos meus avós ou de seus contemporâneos. Há uns anos atrás, quando completei minhas doze primaveras, disseram-me que não era mais uma criança, que estava "virando rapaz", um adolescente. Hoje, já chamam essa idade de pré-adolescência. E no conviver diário com meus alunos, já percebo características pré-adolescentes nos meninos e meninas de nove... dez anos, em quem vejo uma erotização precoce tal que, nessa idade, eles já querem me dar aulas de como conquistar umas "gatinhas". Adoro trocar idéias com esses conquistadorezinhos durante o intervalo. Confesso que tenho reaprendido um "montão" de coisas, rsrsrs.

Mas, voltando ao Léo, o rapaz que sempre fora um aluno responsável com suas tarefas escolares, agora assistia prova após prova, suas notas escorrerem pelo ralo de tão baixas que estavam. Sua turminha era esquisitíssima, comentava Marina, uma "galera" cheia de balangandãs pós-modernos de deixar Carmem Miranda "passada": piercings, colares pesadíssimos ( alguns mais pareciam coleiras de pitbull ), tatoos espalhadas pelo corpo...

O que mais deixou sua mãe intrigada foi que Léo certa vez apareceu "altas horas" da noite em casa com os olhos pintados. Ou eram os cílios? Não. Sombra nos olhos! Ah, não lembro como Marina me falou exatamente. Entendo muito pouco de maquiagem, mas foi algo assim... de natureza estético-ocular.

Marina ficou perturbada. Pensou: Será que o Léo é gay? Alguns dos amigos dele já deu pra ver que são. Ainda continuou "viajando"... Lembrou-se de uma vez em que ele lhe perguntou: Mãe, se eu fosse homossexual, a senhora me amaria do mesmo jeito?

Foi nesse momento que fitei os olhos no rosto de Marina com espanto e curiosidade querendo saber qual sua resposta àquela questão tão sincera. Ela, pra minha surpresa, disse que nada mudaria, pois o amor que sentia por Léo estava muito além disso. Contudo, disse ela para o filho, que iria interceder muito por ele, pois julgava não ser essa a vontade de Deus para o rapaz.

Independente da posição de Marina sobre a homossexualidade ser ou não o própósito divino para seu filho, fiquei surpreso pela abertura franca, e portanto, sensível que existia entre Marina e Léo, mãe e filho, experiência e juventude. Vinte anos de distância transformados em nada diante da proximidade dos dois naquele diálogo.

Pasmei ainda mais quando Marina disse que chegou a perguntar "na bucha" mesmo se o filho era gay, e Léo respondeu como quem está indeciso entre comer um sorvete de morango ou chocolate. Não sei mãe, disse ele, ainda não senti tesão ao ver ou estar perto de uma mulher, tampouco me sinto atraído por homem algum... minha sexualidade ainda é muito "minha".

Meu espanto aumentou quando Marina me pediu um conselho, uma opinião. Mais que isso: o que eu poderia dizer-lhe que a fizesse lidar melhor com aquela situação.

Sorri, ainda bobo, e brinquei: Como você ousa, minha amiga, me pedir para orientá-la, se seu relacionamento com seu filho é tão amorosamente escancarado e sem máscaras? Como você pode se sentir confusa em meio a clareza com que vocês se colocam um para o outro? Com que tipo de esnobismo me pede algo assim, sabendo que existem milhares de famílias que esticam as filas em consultórios de psicanálise, lotam salões de terapias de grupo, esgotam títulos de auto-ajuda nas livrarias por causa do abismo de gerações entre pais e filhos? Conflitos que talvez fossem resolvidos com uma única palavra de compreensão. Ah, se conhecêssemos o altíssimo valor das palavras que revelam o profundo da alma ao nosso Semelhante.

A verdade é que insistimos em não crescer na área dos relacionamentos. A sociedade capitalista é cada vez mais avessa a compromissos afetivos em nossas relações. Continuamos fechando o vidro do carro e trancando-nos na frieza do ar condicionado, pondo grades nas portas e janelas de nossas casas e corações, cultivando o que o poeta chama de "superficial, risos polidos, relacionamentos de alô". Permanecemos evitando abraços na infeliz tentativa de parecermos fortes e invulneráveis.

Quando penso na incomensurável fatia da vida que deixei de saborear por causa do medo de me mostrar, de "dar a cara à tapa", de confessar minhas fraquezas e externar minhas alegrias naquilo que me dá prazer, de conviver enfim... meu Deus, impossível não lembrar do Epitáfio dos Titãs: "queria ter amado mais... arriscado mais... ter visto o Sol nascer..."

Marina, disse pra ela, você e seu filho já têm o que uma quantidade infindável de famílias ainda não possuem. Vocês têm um ao outro. Vocês podem se ver mutuamente como quem contempla a própria imagem num espelho d'água, através do exercício da compreensão. E, sendo assim, vossas almas estão ligadas por cordões eternos. Pode um objeto não ter sua imagem refletida no espelho na presença da luz? É possível, diante da luz, separar o corpo da própria sombra? Vejo a Luz em vocês! A vida certamente lhes fará passar por túneis "onde só tem o breu", por bêcos escuros e imundos, entretanto, como diz o sábio: "o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã". Depois outra noite, outra manhã... mais uma noite, novo amanhecer... até raiar o Dia perfeito na eternidade.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Estou Cansado


Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensinou que Deus restaura as forças dos que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista.
Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.
Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos.
Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.
Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa.
Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.
Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.
Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento "científico" da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.
Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.
Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros! que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas "caiam sob o poder de Deus" para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.
Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar "piercing", fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.
Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.
Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.
Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja.
Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.
Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.
Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.
Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.
Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesias para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.
Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.
Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim


Faço côro com o "desabafo" do Pr. Ricardo Gondim. Até então não havia lido nenhum texto que descrevesse tão direta e claramente minhas tristezas em relação a hipocrisia reinante da cultura "evangélica" brasileira de nossos dias... tão distante dos referenciais do Reino de Deus revelados na simpliciadade de Jesus.

domingo, 5 de agosto de 2007

Jardins


Já que foi assim,
naquele jardim Te desagradei.
Fiz-me irreverente, não fiquei contente
em Te obedecer.
Pequei...
Tornei-me escravo de mim mesmo
Servo do enganoso coração
Fugi, fiquei só, sem Ti, Senhor.
Doeu.

Já que foi assim,
em outro jardim eu Te contemplei.
Teu semblante triste, que por mim
insiste em se oferecer.
Morreu.
E perdoou-me totalmente.
Livre do pecado então me fez.
Voltei.
Contigo estou vou assim.

Mas já que é assim,
Tua vida em mim, minha vida é
Caminhar Teus passos
e sonhar Teus planos é o que quero enfim
Viver, lutar, vencer, servir, amar...
nem que seja um pouco só
do muito do Teu grande amor por mim.


Paulo Cézar (Grupo Logos)

Espiritualidade de cima e de baixo (Parte 2), por Anselm Grüm.



Exemplos da Bíblia





A Bíblia nunca nos apresenta como modelos de fé pessoas perfeitas e sem falhas, mas, sim, justamente pessoas que carregam uma grave culpa e que invocaram a Deus do fundo do abismo. Vemos aí Abraão, que no Egito renega sua mulher e aapresenta como sua irmã, a fim de conseguir uma vantagem. Isto faz com que Faraó a tome para seu harém. Deus mesmo precisa intervir para livrar o pai de fé da mentira (Gn 12,10-20). Aí está Moisés, que libertou Israel do Egito. Ele é um assassino. Em um momento de ira, matou um egípcio. Moisés tem que primeiro se confrontar com sua inutilidade, que ele vê refletida na imagem da sarça ardente, para, como um fracassado, entrar a serviço de Deus. Eis, aí Davi, modelo perfeito do rei de Israel e modelo para todos os demais reis. Ele carrega sobre si uma culpa grave quando dorme com Betsabé, a mulher de Urias. Depois de a ter engravidado, ele ordena que o hitita Urias seja deixado sozinho na batalha, para ser morto. Os grandes vultos do Antigo Testamento tiveram que passar pelo fundo do vale para colocar sua esperança unicamente em Deus...

No Novo Testamento, Jesus escolhe Simão Pedro como rochedo e alicerce para sua comunidade. Pedro não compreende Jesus. Pretende demovê-lo de seu caminho para Jerusalém, que o leva à morte certa. Jesus o chama de Satanás e o manda afastar-se (Mt 16,23). Por fim, Pedro nega Jesus depois que ele foi preso. Ainda no caminho para o Monte das Oliveiras, ele havia afirmado solenemente: "Ainda que tenha de morrer contigo, não te negarei" (Mt 26,35). Primeiro, ele precisa sentir que, por si só, não pode oferecer nenhuma garantia, mesmo depois de promessa tão solene. Quando, enfim, negou a Jesus, ele "saiu para fora e chorou amargamente" (Mt 26,75). Os evangelistas não quiseram enfeitar a negação de Pedro. Tudo indica que, para eles, era importante confessarem impiedosamente que Jesus não havia escolhido apóstolos piedosos e confiáveis, mas justamente pessoas pecadoras e fracas. E, não obstante, foi justamente sobre estes homens que Jesus edificou sua Igreja. Foram eles as testemunhas certas para a misericórdia de Deus... Precisamente por sua culpa, Pedro transformou-se em rochedo. Pois, sentiu que não é ele que é o rochedo, mas somente a fé, a que tem que agarrar-se para, na tentação, permanecer fiel a Cristo.

Paulo, como fariseu era um típico representante da espiritualidade de cima. Ele diz a respeito de si mesmo: "No zelo pelo judaísmo ultrapassava muitos dos companheiros de idade da minha nação, mostrando-me extremamente zeloso das tradições paternas" (Gl 1,14). Cultivou os ideais dos fariseus, observou rigorosamente todos os mandamentos e prescrições, para assim cumprir a vontade de Deus. Mas, no caminho de Damasco, ele é derrubado e todo o edifício de sua vida desmorona. Caído por terra, ele se confronta com a espiritualidade de baixo. Torna-se desamparado, impotente. E fica sabendo que Cristo mesmo age sobre ele e o transforma. Sua mensagem de justificação só pela fé é um testemunho desta experiência. Ela mostra que não podemos chegar a Deus através da virtude e da ascese (exercícios espirituais), mas somente reconhecendo a própria fraqueza. Só então é que adquirimos um sentido para o que a graça realmente é. Mesmo após a coversão, Paulo não é uma pessoa plenamente curada e transformada. Ele sofre de uma doença que manifestamente o humilha. Afirma a respeito e si próprio: Para que as grandezas das revelações não me levasse ao orgulho, foi me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás que me esbofeteia e me livra do perigo da vaidade" (2Cor 12,7). A doença não impede que Paulo mesmo assim anuncie a Boa-Nova. Paulo gloria-se precisamente nas suas fraquezas... a experiência de sua enfermidade, que manifestamente o incomoda, deixa-o aberto para a graça de eus, que é a única coisa que importa. Melhor do que qualquer outro, ele anuncia a redenção libertadora em Jesus Cristo. Por isso, Deus não o livrou da doença. Pelo contrário, deu-lhe como resposta: "Basta a minha graça, porque é na fraqueza que a força chega a perfeição" (2Cor 12,9). força de Deus atua tanto mais intensamente quanto mais fraca é a nossa própria força... por iso Paulo aceita sua impotência e sua fraqueza. "Pois, quando me sinto fraco, então é que sou forte" (2Cor 12,10).

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Hoje... agora...


Há dias em que o mundo me parece tão cruelmente grande,
tão assustadoramente triste e casual.
O coração fervia de tristeza há pouco tempo.
Hoje, só bate...
sente uma espécie de banzo
saudade do que nunca foi,
do que nunca viveu,
mas agora, só por hoje talvez, ele o faz sem chorar.

Estou no mar numa noite quente.
Contando abobalhado as estrelas...
cantando as ondas com melancolia,
mas sem chorar.
Mergulhado nas águas frias da solidão.
A deriva em sua calmaria,
mas sem chorar.

Houve tempo em que eu acreditava nas pessoas.
Hoje, não mais.
Não penso em ninguém agora,
só no que vivi.
Andanças...
Só nas emoções.
No sofrer e no sorrir
que esses meus semelhantes me fizeram sentir.
Lembranças...

Parece que tudo foi muito ou pouco demais pra mim.
Quem dera tivesse sido bom ou ruim...
É como se tudo que passei
não tivesse passado por mim.
Minha cabeça deu nó agora.
Hoje, não consigo chorar.
Agora só Deus me consola.
Hoje só Ele me pode falar.
Mas não ouço nada,
só o som efervescente da espuma d'água.

Na areia, me deito sozinho agora.
Queria sonhar,
ou acordar desse sonho, sei lá...
queria o meu lugar.
Agora, adormeço sob a luz de Deus,
da Lua: Seu tranquilo e marejado olhar.
Mas sem chorar,
pois ,hoje, meus pesares, minhas dores,
minhas lágrimas... são o mar.
Ao som de "Coqueiros" e "Bicho de Sete Cabeças" do Geraldo Azevedo e, ainda assim, sem chorar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O Senhor das Estórias 1 - A tranquilidade das ovelhas


A noite estava escura, céu sem estrelas. De vez em quando ouvia-se o uivo de um lobo bem longe, misturado com o barulho do vento. As crianças reunidas na tenda do Mestre Benjamin estavam com medo. Mestre Benjamin sentiu o medo nos seus olhos. Foi então que uma delas perguntou:

"Mestre Benjamin, há um jeito de não ter medo? Medo é tão ruim."

Mestre Benjamin respondeu:

"Há sim..." E ficou quieto. Veio então a outra pergunta:

"E qual é esse jeito?"

"É muito fácil. É só pensar como as ovelhas pensam..."

"Mas como é que vou saber o que as ovelhas estão pensando?"

Mestre Benjamin respondeu:

"Quando, durante a noite, as ovelhas estão deitadas na pastagem, os lobos estão à espreita. E eles uivam. As ovelhas têm medo. Mas aí, misturado ao uivo dos lobos, elas ouvem a música mansa de uma flauta. É o pastor que cuida delas e não dorme nunca. Ouvindo a música da flauta, elas pensam:

Há um pastor que me protege.

Ele me leva aos lugares de grama verde

e sabe onde estão as fontes de águas límpidas.

Uma brisa fresca refresca a minha alma.

Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas.

Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro como a morte

eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranquilizam.

Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer.

Passa óleo perfumado na minha cabeça para curar minhas feridas

e me dá água fresca para sarar o meu cansaço.

Com ele não terei medo, eternamente...

(Salmo 23, paráfrase)

Mestre Benjamin parou de falar. Os olhos de todas as crianças estavam nele. Foi então que uma delas levantou a mão e perguntou:

"E os lobos? Eles vão embora? Eles morrem?"

"Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a música da flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo, mas a despeito do perigo. Não há um jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo..."

As crianças voltaram para suas tendas dormiram sem medo, pensando os pensamentos das ovelhas... De vez em quando, lá fora, ouvia-se o uivo de um lobo faminto. Desde então, tornou-se costume contar ovelhinhas para dormir.


Rubem Alves

terça-feira, 31 de julho de 2007

Sugestões de Leitura 2


Livro: Perguntaram-me se acredito em Deus
Autor: Rubem Alves
Editora Planeta


Uma deliciosa sequência de narrações contadas por quem o autor chama de O Senhor das Estórias. São paráfrases de alguns dos mais belos ensinamentos de Jesus, enriquecidos de poesias divinamente inspiradas de escritores consagrados que emocionam o autor. Um livro cuja leitura nos faz contempladores, mais que isso: admiradores estupefatos da Beleza que nele há.
Uma fonte de águas limpas e tranquilas pra saciar quem tem um sedento coração.
Rubem Alves é desses homens que podiam ser clonados pra abençoar mais e mais pessoas. Um dos intelectuais brasileiros mais lidos da atualidade, além de ser um educador brilhante também!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Felizes Maltrapilhos!



Uma das coisas que mais me emociona quando leio o Evangelho é a nítida preferência de Jesus por estar entre maltrapilhos, desvalidos, desesperançados, miseráveis, beberrões, prostitutas, ladrões, leprosos... gente que a sociedade já condenou, sem ao menos ouvi-las, ao inferno do isolamento moral, da indignidade e da solidão. Aliás, é essa a imagem que extraio da Bíblia com relação ao inferno: desesperança, como conseqüência da separação eterna de Deus. Ele (Jesus) chegou a ser acusado, pelos religiosos da época de ser um beberrão e glutão que vive de dar festas pra pecadores. E, por certo ponto de vista, eles tinham razão. Convidar alguém pra comer em sua casa na tradição judaica da época (e suspeito ser assim ainda hoje) não era simplesmente uma gentileza, e, muito menos um gesto fino pra demonstrar boa educação. Quando um judeu convida alguém pra dividir uma refeição em sua própria casa, significa que ele quer relacionar-se com a pessoa, aproximar-se dela, julgando-a digna de sentar-se com ela em sua mesa. Significa que ele quer dividir não só a comida, mas também um pouco da própria vida com o convidado. É provável que Jesus tivesse uma residência semipermanente (talvez a dividisse com Pedro, em Cafarnaum), pois voltava pra casa depois de suas viagens missionárias e, freqüentemente, lá agia como anfitrião. E, como diz Brennam Manning, a sua lista de convidados era um desfile de mulambentos (vendedores ignorantes, mulheres “da vida, senhores de cortiço, jogadores...) Ora, era exatamente essa a idéia de Jesus: compartilhar sua Vida com aquelas pessoas, devolvendo-lhes a dignidade negada pelos seus patrícios.
A mensagem do Mestre para mundo era nítida como um reflexo em limpas águas:

“Eu vim pra que tenham Vida e a tenham em abundância.”
“Vinde a mim todos os que estão cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.”

Em resposta aos seus críticos fariseus (os religiosos de seu tempo), que achavam que um profeta não poderia andar com esse tipo de gente, muito menos recebê-los em sua casa, Ele arrasava:

“Eu não vim para os sãos, mas para os que estão doentes.”
“O Filho do Homem veio buscar e salvar os que estão perdidos.”
“Bem-aventurados os pobres de espírito... os que tem sede de justiça...os que sofrem... os que choram, porque eles serão consolados”

Era como se Jesus dissesse pra os “doutores da Lei Divina”: Esses pecadores, essa gente que vocês “escarram”, estão muito mais perto de Deus do que vocês. Eles, por terem sua vida maltratada pelo pecado, podem mais facilmente se arrepender. Vocês, no entanto, tão seguros de sua devoção e “santidade” não conseguem enxergar qualquer necessidade de conversão. Nas palavras de Brennam, essas pessoas dão valor à bondade de Deus, são um paradigma do Reino diante de vocês, pois elas têm o que lhes faltam: uma profunda gratidão pelo amor de Deus e um profundo assombro diante da sua misericórdia.
Penso que quanto mais próximo e consciente está o homem do lugar de sua condição miserável, mais perto Deus está dele do que em qualquer outro local! Ele não está nem mesmo na igreja, se está já subiu no pedestal de sua própria santidade, a ponto de enxergar as pessoas “mortais” como inferiores (vê-las de cima), ou pior, desprezando-as... trancando-se com grades a cadeados dentro de suas paredes no domingo a noite.
Penso também, que se Jesus tivesse escolhido vir a este mundo em nossa geração. E mais, escolhido Fortaleza pra nascer e começar seu ministério, Ele certamente não nasceria nas bem equipadas maternidades particulares da Aldeota nem pregaria nas suntuosas catedrais de grandes igrejas, não... Creio que viria ao mundo num barraco improvisado ás margens inundadas do Rio Maranguapinho no inverno e evangelizaria em pleno centro da cidade, no Beco da Poeira (para muitos, a Feira dos Malandros da Praça da Lagoinha) fazendo a alegria da “galera”, sentaria num banco da Praça do Ferreira no fim de tarde batendo um papo sobre a Vida com os velhinhos que ali se reúnem ou, se fosse a noite, conversava com embriagados, michês, mendigos e crianças que fazem daqueles bancos suas camas de dormir. Para essas pessoas, que tinham suas histórias marcadas pelo desprezo e pelo preconceito, a mensagem do evangelho É chegado a vós o Reino dos Céus era, realmente, uma boa-nova, mais do pra qualquer um! Deus não os esqueceu , o Próprio escolheu ficar no meio deles. Imagine o senso de dignidade há muito não sentido por essa gente, que Jesus lhes devolvia ao saberem que a Divindade os ouvia, conversava com eles, convidava-os a participar de sua mesa, num farto banquete espiritual! Talvez Jesus nem desse muita importância a gente como eu e você que temos acesso a um computador, a não ser que subíssemos numa árvore, como fez o abastado Zaqueu (Lc 19:1-10), pra suplantar a multidão de maltrapilhos felizes, cheios de esperança e dignidade só por estarem na presença de seu Rei, o meigo nazareno.

A opção de Jesus pelos miseráveis de espírito, desafia os cristãos do nosso tempo a se despojarem das vestes de seda da sua própria justiça e esforço espiritual para, finalmente, assumirem os "maltrapilhos" trajes de sua humanidade e, só assim, poderem ser alcançados pela graça libertadora do Senhor.