sexta-feira, 12 de junho de 2009

Inverno


Doce sonho
Leve sonolência
Vejo a cadência
Do amor e desprezo.
Brisa mansa,
Lembranças perdidas
Sonhos esquecidos
E nenhuma esperança.
Lua grandiosa
Toda brilhante
Deslumbrada e pressurosa,
Faz da minha alma a
Sombra da tua.
A noite fria
Faz da melancolia
Todo o meu pranto
E a falta do desejo humano
Traz um oceano sem fim.
Meu rosto sério
Sem marcas
Esconde o tempo
Envolto em mistérios,
Onde os pensamentos estrangeiros
Vagam pelo céu,
Desviando do imenso inverno
Que é meu coração.



Andréia Alvino


Eu pedi uma poesia pra minha amiga Deinha e, no outro dia, ela me traz um reflexo da alma, da minha alma. Amigos são assim, enxergam na gente o que ninguém vê... nos dizem as palavras que a ninguém falamos, mas que clamam por liberdade dentro de nós.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Chamo este texto de ALEGORIA DA PRESENÇA DIVINA



Penso que tinha três ou quatro anos,
não sei bem ao certo.

O que me lembro com clareza é de uma rua,
caminho de casa.

Éramos apenas eu e meu pai andando juntos.

Às vezes, ele me colocava sobre seus ombros largos e
corria a passos firmes, incitando o vento a roçar mais forte na minha pele.

A sensação que eu tinha é que era tarde da noite.

A rua estava deserta.

Como companheiros, tínhamos apenas os postes e suas
luzes amenas apontando o rumo do lar.

Já de volta ao chão, vejo no rosto moreno de
meu pai um olhar maroto, de quem quer brincar,
aprontar uma travessura.

Sem aviso, ele passa a correr como um raio e em
segundos parece sumir por entre as bruma da noite.

Senti naqueles instantes pela primeira vez meu coração
pulsar mais forte, o sangue circular veloz por minhas
veias e medo, muito medo.

Medo de estar só, medo da escuridão, medo de não
chegar em casa.

E gritei. Gritei com todas as minhas forças, as lágrimas
correndo grossas sobre minha face.

Foram alguns poucos segundos. Para mim, o primeiro
contato com o desconhecido.

Logo pude ver meu pai de volta, estampando em seu
rosto um sorriso aberto, quase que uma gargalhada.

E senti seu abraço forte, seguro, protetor.

Já não me importava mais a distância, o tempo,
a escuridão, a rua deserta.

Sua presença era tudo.



Thomas Merton

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar:'Digam o que disserem, o mal do século é a solidão'. Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar... Os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Tem gente contratando pessoas para dançar com elas em bailes, os novíssimos 'personal dance', incrível.E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão 'apenas' dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a 'sentir', só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número de comunidades como:"Quero um amor pra vida toda","Eu sou pra casar", até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho", unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, demodê, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, 'pague mico', saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois. Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada O que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: 'vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida'. Antes idiota que infeliz!

Arnaldo Jabour