terça-feira, 31 de julho de 2007

Sugestões de Leitura 2


Livro: Perguntaram-me se acredito em Deus
Autor: Rubem Alves
Editora Planeta


Uma deliciosa sequência de narrações contadas por quem o autor chama de O Senhor das Estórias. São paráfrases de alguns dos mais belos ensinamentos de Jesus, enriquecidos de poesias divinamente inspiradas de escritores consagrados que emocionam o autor. Um livro cuja leitura nos faz contempladores, mais que isso: admiradores estupefatos da Beleza que nele há.
Uma fonte de águas limpas e tranquilas pra saciar quem tem um sedento coração.
Rubem Alves é desses homens que podiam ser clonados pra abençoar mais e mais pessoas. Um dos intelectuais brasileiros mais lidos da atualidade, além de ser um educador brilhante também!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Felizes Maltrapilhos!



Uma das coisas que mais me emociona quando leio o Evangelho é a nítida preferência de Jesus por estar entre maltrapilhos, desvalidos, desesperançados, miseráveis, beberrões, prostitutas, ladrões, leprosos... gente que a sociedade já condenou, sem ao menos ouvi-las, ao inferno do isolamento moral, da indignidade e da solidão. Aliás, é essa a imagem que extraio da Bíblia com relação ao inferno: desesperança, como conseqüência da separação eterna de Deus. Ele (Jesus) chegou a ser acusado, pelos religiosos da época de ser um beberrão e glutão que vive de dar festas pra pecadores. E, por certo ponto de vista, eles tinham razão. Convidar alguém pra comer em sua casa na tradição judaica da época (e suspeito ser assim ainda hoje) não era simplesmente uma gentileza, e, muito menos um gesto fino pra demonstrar boa educação. Quando um judeu convida alguém pra dividir uma refeição em sua própria casa, significa que ele quer relacionar-se com a pessoa, aproximar-se dela, julgando-a digna de sentar-se com ela em sua mesa. Significa que ele quer dividir não só a comida, mas também um pouco da própria vida com o convidado. É provável que Jesus tivesse uma residência semipermanente (talvez a dividisse com Pedro, em Cafarnaum), pois voltava pra casa depois de suas viagens missionárias e, freqüentemente, lá agia como anfitrião. E, como diz Brennam Manning, a sua lista de convidados era um desfile de mulambentos (vendedores ignorantes, mulheres “da vida, senhores de cortiço, jogadores...) Ora, era exatamente essa a idéia de Jesus: compartilhar sua Vida com aquelas pessoas, devolvendo-lhes a dignidade negada pelos seus patrícios.
A mensagem do Mestre para mundo era nítida como um reflexo em limpas águas:

“Eu vim pra que tenham Vida e a tenham em abundância.”
“Vinde a mim todos os que estão cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.”

Em resposta aos seus críticos fariseus (os religiosos de seu tempo), que achavam que um profeta não poderia andar com esse tipo de gente, muito menos recebê-los em sua casa, Ele arrasava:

“Eu não vim para os sãos, mas para os que estão doentes.”
“O Filho do Homem veio buscar e salvar os que estão perdidos.”
“Bem-aventurados os pobres de espírito... os que tem sede de justiça...os que sofrem... os que choram, porque eles serão consolados”

Era como se Jesus dissesse pra os “doutores da Lei Divina”: Esses pecadores, essa gente que vocês “escarram”, estão muito mais perto de Deus do que vocês. Eles, por terem sua vida maltratada pelo pecado, podem mais facilmente se arrepender. Vocês, no entanto, tão seguros de sua devoção e “santidade” não conseguem enxergar qualquer necessidade de conversão. Nas palavras de Brennam, essas pessoas dão valor à bondade de Deus, são um paradigma do Reino diante de vocês, pois elas têm o que lhes faltam: uma profunda gratidão pelo amor de Deus e um profundo assombro diante da sua misericórdia.
Penso que quanto mais próximo e consciente está o homem do lugar de sua condição miserável, mais perto Deus está dele do que em qualquer outro local! Ele não está nem mesmo na igreja, se está já subiu no pedestal de sua própria santidade, a ponto de enxergar as pessoas “mortais” como inferiores (vê-las de cima), ou pior, desprezando-as... trancando-se com grades a cadeados dentro de suas paredes no domingo a noite.
Penso também, que se Jesus tivesse escolhido vir a este mundo em nossa geração. E mais, escolhido Fortaleza pra nascer e começar seu ministério, Ele certamente não nasceria nas bem equipadas maternidades particulares da Aldeota nem pregaria nas suntuosas catedrais de grandes igrejas, não... Creio que viria ao mundo num barraco improvisado ás margens inundadas do Rio Maranguapinho no inverno e evangelizaria em pleno centro da cidade, no Beco da Poeira (para muitos, a Feira dos Malandros da Praça da Lagoinha) fazendo a alegria da “galera”, sentaria num banco da Praça do Ferreira no fim de tarde batendo um papo sobre a Vida com os velhinhos que ali se reúnem ou, se fosse a noite, conversava com embriagados, michês, mendigos e crianças que fazem daqueles bancos suas camas de dormir. Para essas pessoas, que tinham suas histórias marcadas pelo desprezo e pelo preconceito, a mensagem do evangelho É chegado a vós o Reino dos Céus era, realmente, uma boa-nova, mais do pra qualquer um! Deus não os esqueceu , o Próprio escolheu ficar no meio deles. Imagine o senso de dignidade há muito não sentido por essa gente, que Jesus lhes devolvia ao saberem que a Divindade os ouvia, conversava com eles, convidava-os a participar de sua mesa, num farto banquete espiritual! Talvez Jesus nem desse muita importância a gente como eu e você que temos acesso a um computador, a não ser que subíssemos numa árvore, como fez o abastado Zaqueu (Lc 19:1-10), pra suplantar a multidão de maltrapilhos felizes, cheios de esperança e dignidade só por estarem na presença de seu Rei, o meigo nazareno.

A opção de Jesus pelos miseráveis de espírito, desafia os cristãos do nosso tempo a se despojarem das vestes de seda da sua própria justiça e esforço espiritual para, finalmente, assumirem os "maltrapilhos" trajes de sua humanidade e, só assim, poderem ser alcançados pela graça libertadora do Senhor.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Como Jesus contaria hoje a parábola do Bom Samaritano


E perguntaram a Jesus: "Quem é o meu próximo?" E ele lhes contou a seguinte parábola:
Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: "Vá passando a carteira". O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.
Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: "Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você." Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: "Ego te absolvo..." Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.
Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: "Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!" O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, "aleluia!" e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.
Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: "Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram.
Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir." Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.
O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.
Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: "Quem foi o próximo do homem ferido?"


Texto de Rubem Alves cujo o título original é "O Bom Samaritano" ou "O Bom Travesti".
Para ler outras crônicas deste brilhante educador acesse:

Espiritualidade de cima e de baixo (Parte 1), por Anselm Grüm


Existem duas correntes na história da espiritualidade, entre outras. Existe uma espiritualidade de cima e uma espiritualidade de baixo. A espiritualidade de baixo significa que Deus não nos fala unicamente através da Bíblia e da Igreja, mas também através de n´s mesmos, daquilo que nós pensamos e sentimos, através de nosso corpo, de nossos sonhos, e ainda através de nossas feridas e de nossas supostas fraquezas. A espiritualidade de baixo foi posta em prática sobretudo no monaquismo. Para conhecerem o verdadeiro Deus e irem ao seu encontro, os primeiros monges começaram convivendo com as próprias paixões, começaram pelo conhecimento de si próprios. Evágrio Pôntico formula essa espiritualidade de baixo na clássica frase: "Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes conhecer-te a ti mesmo". O subir até Deus passa pelo descer até a própria realidade e pelo chegar às profundezas do inconsciente. A espiritualidade de baixo não vê o caminho para Deus como uma estrada de mão única que nos leva sempre em frente, em direção a Deus. Pelo contrário, o caminho para Deus passa por erros e rodeios, pelo fracasso e pela decepção consigo mesmo. O que me abre para Deus não é, em primeiro lugar, a minha virtude, mas, sim, minha fraqueza, minha incapacidade, ou mesmo o meu pecado.*

A espiritualidade de cima começa pelos ideais que nós nos impomos. Parte das metas que o homem deve alcançar atrvés da ascese e da oração. Os ideais que levam a isto são obtidos do estudo da Sagrada Escritura, da doutrina moral da Igreja e da idéia que o homem faz de si mesmo. A pergunta básica desta espiritualidade de cima é: Como deve ser o cristão? Que é que o cristão deve fazer? Que atitudes deve ele assimilar? A espiritualidade de cima nasce do anseio do homem de tornar-se sempre melhor, por subir sempre mais alto, por chegar cada vez mais perto de Deus. esta espiritualidade foi adotada sobretudo na teologia moral dos três últimos séculos e na ascese, tal como ensinada a partir de era iluminista. A psicologia moderna vê com bastante ceticismo esta forma de espiritualidade, porque com ela o homem corre o riso de ficar interiormente dividido. Quem se identifica com seus próprios ideais, frequentemente reprime sua própria realidade, se ela não estiver em harmonia com estes ideais. e assim, o homem fica interiormente dividido e enfermo. Ma, a espiritualidade de baixo, ao invés, tal como posta em prática pelos monges da Antiguidade, tende a ser confirmada pela psicologia. Pois, para a psicologia está claro que o homem só poderá chegar à sua verdade através de um honesto autoconhecimento.

Na espiritualidade de baixo, entretanto, não se trata apenas de ouvir a voz de Deus naquilo que eu penso e sinto, nas minhas paixóes e enfermidades, e de assim descobrir a imagem que Deus fez de mim. Também não se trata apenas de subir a Deus descendo a minha realidade. Trata-se, antes, na espiritualidde de baixo, de que, ao chegar ao fim de nossas possibilidades, nós estejamos abertos a uma relação pessoal com Deus. A verdadeira oração, dizem os monges, surge do mais profundo de nossa miséria, e não das nossas virtudes. Jean Lafrance, para quem a oração vinda do profundo é a oração que caracteriza a vida cristã, teve que por muto tempo viver a experi~encia do fracasso para chegar à verdadera oração. Ele escreve: "Todo esforço que fazemos por meio da ascese e da oração para nos apossarmos de Deus é um esforço na direção errada... É importante que reconheçamos até que ponto esse esquema de perfeição persegue uma rota que contraria ao que Jesus mostrou no Evangelho... Jesus não construiu nenhuma escada de perfeição pela qual nós pudéssemos subir degrau por degrau para, no fim, chegar-mos à posse de Deus, mas mostrou um caminho que leva às profundezas da humildade... Temos, pois, que escolher na encruzilhada o caminho que iremos seguir para chegarmos a Deus. O caminho de cima ou o caminho de baixo? Com base em minha experiência, eu desejaria dizer-vos logo de partida: se quereis chegar a Deus através do heroísmo e da virtude, isso é problema vosso. Tendes o direito de fazê-lo; mas, advirto-vos que, com isto, ireis bater com a cabeça na parede. Se, ao invés, quiserdes seguir o caminho da humildade, tendes que abraçá-lo com sinceridade, e não podeis ter medo de descer atá o mais profundo de vossa miséria". A espiritualidade de baixo ocupa-se com a questão de saber o que devemos fazer quando tudo dá errado, como devemos conviver com os cacos e fragmentos da nossa vida, e como daí podemos construir algo novo.

A espiritualidade de baixo é o caminho da humildade... Não devemos entender a humildade como uma virtude que nós mesmos sejamos capazes de conquistar, para isso bastando que "nos humilhemos" e nos rebaixemos. A humildade é, em primeira linha, uma virtude social... a palavra latina humilitas está relacionada com humus, com terra. A humildade, portanto, é o reconciliar-nos com nossa condição terrena, com o peso que nos puxa para baixo, com o mundo de nossos instintos, com o nosso lado sombrio. A humildade é a coragem de aceitar a verdade sobre si mesmo.

A espiritualidade de baixo não só descreve s passos terapêuticos que o homem precisa dar pra chegar ao seu verdadeiro ser, mas também é o caminho religioso que, através da experiência do fracasso, leva à oração, ao clamor profundo e a uma relação profunda com Deus.


*grifo meu

terça-feira, 24 de julho de 2007

Sugestões de Leitura 1



Livro:
O EVANGELHO MALTRAPILHO
Autor: Brennam Manning



Editora Mundo Cristão

O autor nos convida a uma reflexão mais lúcida e a uma postura mais honesta em relação ao Evangelho da Graça (o "evangelho maltrapilho"). Evangelho que é boa-nova para fracassados, sobrecarregados, miseráveis, "fracotes", leprosos, prostitutas e ladrões; e que é uma notícia incômoda e intolerável aos "bons", "dignos", "justos" e religiosos.
Talvez por isso o autor tenha escrito: Este livro não é para superespirituais... Não é para acadêmicos que aprisionam Jesus na torre de marfim da exegese... Não é para gente barulhenta e bonachona que manipula o cristianismo a ponto de torná-lo um simples apelo ao emocionalismo... o Evangelho Maltrapilho é um livro que escrevi para mim mesmo e para quem quer que tenha ficado cansado e desencorajado ao longo do Caminho... É para gente inteligente que sabe que é estúpida e para discípulos honestos que admitem que são canalhas.
Uma leitura que desafia os cristãos do nosso tempo a se despojarem das vestes de seda da sua própria justiça e esforço espiritual para, finalmente, assumirem os "maltrapilhos" trajes de sua humanidade e, só assim, poderem ser alcançados pela graça libertadora do Senhor!

Tem sido, particularmente, mais do que um livro: um divisor de águas em meu Caminho.

O cantor


Desacreditei no amor
fez-se noite em mim
calou-se o cantor
meu tom desafinou
silenciou e fim
Ninguém nunca me amou
o tolo apaixonado é o que sempre fui
desacreditei no amor

Jesus então chegou
manhã raiou enfim
nova canção compus
minha letra traduz
Sua melodia em mim
Na cruz Ele me amou
ser filho dedicado é ao que me propus
e ser de Deus cantor




"De madrugada, ainda escuro... "




Em fevereiro deste ano, fui a São Paulo. Preparei-me financeira e emocionalmente pra viagem durante os cinco meses anteriores sem nem mesmo ter certeza se ia. Condicionei meu "ir" ou não à possibilidade de conseguir uma companhia. Não queria ir pra tão longe sozinho... nunca viajei sozinho. Té que "coincidentemente" uma amiga de trabalho me disse que ia exatamente no período em que eu planejava partir e voltar. Nem precisei agradecer a Deus pela boa-nova, o nome da minha companheira de viagem já era Aleluia. Olhei pra ela, e com um largo sorriso, gritei seu nome! Morremos de rir em seguida!


Tive de renunciar muitos prazeres cotidianos como sair aos domingos depois da igreja com a família (e quando digo família, ninguém me imagine com minha esposa e uma "penca" de meninos, não... sou solteiro... no caso, minha família são meus pais e irmãos) pra comer um sanduba no Tatá ou uma pizza hut no shopping. Abri mão de comprar os presentes natalinos (meus presentes natalinos, rsrsrs) pra economizar o "décimo" e paguei o cartão sem "mínimo" pra enchê-lo ao máximo na Terra da Garoa. As emoções também estavam ferventes. Iria participar de um retiro carnavalesco num lugar campestre lindíssimo, uma espécie de vale no qual pra onde quer que se erguesse o olhar contemplávamos as montanhas, cuja programação seria toda realizada pelo meu grupo musical favorito, o Grupo Logos. E quem me conhece sabe que esse fato por si só já era o suficiente pra me deixar super feliz e nervosíssimo, tanto que durante o tempo por lá cheguei a ser convidado a cantar com a banda deles e "amarelei"... tava tão emocionado que inventei uma desculpa e me escondi. Uma das maiores frustrações da minha vida! Uma das, porque teve outra: esqueci de levar a máquina fotográfica. Voltei sem uma foto da viagem... só eu mesmo! Ah, antes de continuar, preciso esclarescer que durante o carnaval me retirei em São José dos Campos. D'outra forma o leitor certamente pensaria que eu estava devaneando falando de um vale idílico cercado de montes em plena cidade de São Paulo!


Existiam outras motivações também, como um amigo paulista que conheci virtualmente pelos orkuts e msn's da vida, e que agora desejava com ardor abraçá-lo pessoalmente. Muita coisa interessante aconteceu na passagem deste cearense matuto pela maior cidade da América do Sul. Mas todo e qualquer fato que tenha ocorrido na minha aventura, perde em hilaridade pro que vou contar a partir de agora.


Quando já estávamos aterrizando em Congonhas (ai que medo!), logo depois do aviso de "apertem os cintos, vamos pousar" (lembrei agora do lindíssimo Samba do Avião, Tom Jobim) ouvimos pelo sistema de som da aeronave uma conhecida melodia cantada à capela. Uma voz meio desafinada e familiar que cantarolava: De madrugada, ainda escuro, eu já buscava a face do Senhor. Senhor, Senhor... tem compaixão de mim, resolve os meus problemas, os entrego hoje a Ti". Nossa... eu e Aleluia nos regozijamos! Pensamos: o piloto deve ser um cristão fervoroso, ou o dono da empresa aérea (a TAM, ai que medo 2!) podia ter se convertido... E o momento era tão oportuno...era realmente madrugada quando aterrizamos. Nós nos emocionamos, oramos junto com a melodia que chegou a ser repetida três vezes antes do pouso e verdadeiramente entregamos a Deus, como dizia a música, nossa estadia naquele lugar. Que benção! Os passageiros até ficaram olhando pra nós e rindo do nosso "ar" de contentamento e alegria.


Já em terra firme, pegamos um táxi e fomos direto pro apartamento da Verinha, amiga da minha amiga (e agora, minha amiga também), onde ficamos hospedados. Não perdemos tempo. No mesmo dia já estávamos "batendo perna" na cidade procurando os dias e horários em que os principais museus da cidade estariam abertos a visitação. Aliás, visitamos um deles, o Museu da Língua Portuguesa que fica "embutido" na histórica Estação da Luz que, meu Deus... coisa linda mesmo! Ouvimos a gravação de versos de Camões (acho que era) na voz da Bethânia... um luxo! Me emocionei muitíssimo!


Voltamos pra casa, já tarde e, cansados, adormecemos. Durante o sono sonhei estar ouvindo a mesma melodia na voz desencontrada da cantora: De madrugada, ainda escuro... Que sonho que nada! Era o celular da mãe (que eu tinha levado em lugar do meu) que estava no alarme despertador e mesmo desligado ainda alardeava. A voz era da própria, que tinha gravado seu desafinado canto (minha mãe nunca soube cantar) a fim de acordar de madrugada pra regar o jardim e orar. Que loucura! Contei pra Aleluia naquela mesma manhã o acontecido... por isso a galera do avião ficou olhando pra gente na hora do "show" e rindo. Ora, eu tinha desligado o celular, nunca imaginei que fosse ele a fazer o barulho glorioso. O pessoal deve ter olhado pra mim e dito: esse bicho é matuto mesmo, não sabe que se deve desligar os telefones dentro do transporte aéreo?!


De qualquer forma, acredito ter sido esse o único jeito que Deus encontrou pra entregarmos nossos caminho a Ele em terras tão distantes, kkkkkkkkk.... Ao falar da comédia com a mãe por telefone, ela que é a mais corajosa e extrovertida evangelizadora que conheço, deu uma interpretação diferente e bem melhor que a minha sobre o acontecido: Meu filho, esse foi o único jeito que Deus encontrou de vocês testemunharem de Sua Palavra naquele avião!




segunda-feira, 23 de julho de 2007

É preciso


Ah, eu preciso rever minha vida
Medir os meus passos
Estender os meus braços às pessoas sofridas

Ah, eu preciso olhar para dentro
Ouvir bem atento
A voz doce e forte
Parceira e consorte
Na vida e na morte
Que fala em mim

Ah, eu preciso ser manso e amigo
Ser rocha e abrigo
Pra quem quer comigo na vida viver

Ah, eu preciso ter olhos abertos
Motivos bem certos
Pra nunca enganar
Essa gente esgotada de tanto chorar

Ah, eu presiso ter coragem de ser
Ter vida e poder
Ter amor pra atender
Essa gente perdida por quem Deus quis
Morrer


Autores: Jorge Camargo e Cáio Fábio
Esta poesia também é uma lindíssima canção! E pode ser ouvida nos cd's CRIAÇÃO (Grupo Semente) e 20 ANOS DE ESTRADA (Jorge Camargo), ambos distrubuídos por Vencedores por Cristo.http://www.vpc.com.br

Reflexos na Água


A idéia de fazer um blog nasceu de uma vontade súbita e tão intensa que eu não conseguia pensar em outra coisa o dia todo (essa introdução, inclusive, foi escrita entre uma garfada e outra durante o jantar, pois temia que minha terrível inconstância destruísse a euforia peculiar dos começos).
Sim, um desejo repentino e fortíssimo, mas não inexplicável. É que tenho dois grandes amigos, a saber: Eduardo Cruz e Rosane de Castro, que são escritores e freqüentemente publicam algumas de suas produções em seus respectivos blogs, páginas das quais sou assíduo leitor. Creio que ainda vou falar muito deles(do Eduardo e da Rô) por aqui, posto que são , particularmente, duas referências importantes. Mais do que isso, meus cúmplices no Caminho. Deles veio minha repentina inspiração.
Digo inspiração, porque a motivação real não procedeu dos dois, mas de uma vontade irresistível de me mostrar, revelar minhas preferências, meus pensamentos, sonhos e frustrações, alegrias e inquietações... enfim, era uma espécie de lampejo narcisista da alma. E foi quando essa idéia do narcisismo me tomou, que ensaiei desistir do meu cibernético intento. Pensei: não vou me permitir fazer uma homepage movido por um sentimento tão egoísta e infantil. Quando lembrei dos nomes com os quais cogitava batizar a home (Retratos da alma, Pedaços de mim... e outros exibicionismos do tipo), ficava ainda mais irritado comigo. Parecia que eu queria me colocar numa vitrine virtual... ou representar várias facetas da minha alma em quadros pintados por mim mesmo, numa exposição egocêntrica, desmedida e descarada (me mostrar por mostrar, nada mais). Só lembrava das palavras do sábio no Livro Sagrado: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!
O que eu não percebia era que o simples fato de não admitir uma motivação tão pouco nobre, já me abria o coração para dar um significado maior ao meu projeto. Pude ver que meu desejo de exibição não era tão seco assim. Ele estava permeado pelo íntimo clamor de ser amado, umedecido pelo conseqüente anseio de me identificar com outras pessoas. Poder compartilhar minhas lutas, dúvidas, medos, delírios, projetos, emoções... minha solidão. Isso mesmo, minha solidão! Sempre fui uma pessoa excessivamente retraída desde a adolescência, alguém com dificuldades de relacionamento (não me perguntem porquê, pelo menos agora não...poderei falar disso depois), embora tenha hoje a certeza (e a tenho desde que encontrei o Amor do meigo Nazareno) de que meus piores momentos de solidão são incapazes de me afastar da Divina Companhia, Sua presença me basta! Pra alguns, quem sabe pra você, pode parecer um paradoxo, né?! Mas não é! Peço a Deus que o Dia o faça entender...
Cáio Fábio, outra referência pessoal no Caminho, talvez possa expressar com maior clareza minhas “segundas intenções” (aquelas por trás da minha “amostração”, se é que ela ainda existe a esta altura!) ao elaborar essa página virtual. Ele diz: Diante disso, fica declarado suspenso o meu direito de me escandalizar com o que quer que seja verdade sobre você. Prefiro caminhar com você a partir de suas lutas e temores do que fingirmos que não trazemos essas coisas embutidas no cerne de nossas tribulações e dramas de vida.
Pronto, creio que agora consegui dizer o que eu queria. O internauta encontrará aqui um pouco do Que está dentro de mim. Na realidade, quem está querendo encontrar algo sou eu. Quero encontrar mais um cúmplice do Caminho. Se eu der sorte, achar um amigo... quem sabe?! Essa é minha oração. E, se Deus me abençoar mesmo, descobrir Jesus em você, meu próximo; e você em mim, como um reflexo na água. Só dessa forma, poderei te amar como a mim mesmo. Ou não foi assim que Deus nos amou? Identificando-se conosco, fazendo-se homem, tornando-se um de nós, reproduzindo em si mesmo nossa imagem caída, como um reflexo na água?
Alguém pode estar dizendo: Esse cara ,com essa estória de imagem refletida na água, só reforça suas pulsões narcisistas. Afinal, foi assim (contemplando seu próprio reflexo) que o Narciso da mitologia “apaixonou-se” por si mesmo. Perceba, no entanto, a gloriosa transformação da minha idéia egoísta inicial. Ao prostrar-me diante das águas para ver minha imagem, a Água Viva me surpreende: me faz enxergar a face do meu irmão, do meu próximo. Consigo, então, querer o seu bem como quero o meu. Compreendê-lo e ajudá-lo em suas lutas, já que elas não são tão diferentes das minhas como eu pensava, são a cruz que carregamos todos os dias.
E aqui, maravilho-me com outra imagem refletida na água: a de um homem ferido carregando monte acima um pesado madeiro... ele é pregado e, em meio a agonia, intercede pelos seus algozes ofertando-lhes seu perdão... ele morre, mas no último suspiro diz que está tudo consumado, como se tivesse completado um missão... o homem de dores ressuscita ao terceiro dia e volta pra casa de seu Pai. Sim, é Ele: Jesus! É Ele o exemplo que anelo seguir desde o instante em que me ensinou a admitir minhas dores e, a partir delas, poder voltar, como Ele, ao meu lugar: os braços do Pai... o Amor pelo qual tanto clamo. É Seu amor que pretendo refletir qual reflexo na água para todos aqueles que puderem contemplá-lo... àqueles por quem Deus quis morrer. Se em algum momento falhar em meu intento, perdoe-me, é que por enquanto, minhas águas são turvas e inquietas pelos vendavais deste tenebroso mundo, não me deixando refletir Sua imagem com perfeição. Contudo, não se preocupe, a Imagem é tão maravilhosamente bela, que minhas ondas são incapazes de ofuscar seu encanto.
Seja bem-vindo!