A idéia de fazer um blog nasceu de uma vontade súbita e tão intensa que eu não conseguia pensar em outra coisa o dia todo (essa introdução, inclusive, foi escrita entre uma garfada e outra durante o jantar, pois temia que minha terrível inconstância destruísse a euforia peculiar dos começos). Sim, um desejo repentino e fortíssimo, mas não inexplicável. É que tenho dois grandes amigos, a saber: Eduardo Cruz e Rosane de Castro, que são escritores e freqüentemente publicam algumas de suas produções em seus respectivos blogs, páginas das quais sou assíduo leitor. Creio que ainda vou falar muito deles(do Eduardo e da Rô) por aqui, posto que são , particularmente, duas referências importantes. Mais do que isso, meus cúmplices no Caminho. Deles veio minha repentina inspiração. Digo inspiração, porque a motivação real não procedeu dos dois, mas de uma vontade irresistível de me mostrar, revelar minhas preferências, meus pensamentos, sonhos e frustrações, alegrias e inquietações... enfim, era uma espécie de lampejo narcisista da alma.
E foi quando essa idéia do narcisismo me tomou, que ensaiei desistir do meu cibernético intento. Pensei: não vou me permitir fazer uma homepage movido por um sentimento tão egoísta e infantil. Quando lembrei dos nomes com os quais cogitava batizar a home (Retratos da alma, Pedaços de mim... e outros exibicionismos do tipo), ficava ainda mais irritado comigo. Parecia que eu queria me colocar numa vitrine virtual... ou representar várias facetas da minha alma em quadros pintados por mim mesmo, numa exposição egocêntrica, desmedida e descarada (me mostrar por mostrar, nada mais). Só lembrava das palavras do sábio no Livro Sagrado: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! O que eu não percebia era que o simples fato de não admitir uma motivação tão pouco nobre, já me abria o coração para dar um significado maior ao meu projeto. Pude ver que meu desejo de exibição não era tão seco assim. Ele estava permeado pelo íntimo clamor de ser amado, umedecido pelo conseqüente anseio de me identificar com outras pessoas. Poder compartilhar minhas lutas, dúvidas, medos, delírios, projetos, emoções... minha solidão. Isso mesmo, minha solidão! Sempre fui uma pessoa excessivamente retraída desde a adolescência, alguém com dificuldades de relacionamento (não me perguntem porquê, pelo menos agora não...poderei falar disso depois), embora tenha hoje a certeza (e a tenho desde que encontrei o Amor do meigo Nazareno) de que meus piores momentos de solidão são incapazes de me afastar da Divina Companhia, Sua presença me basta!
Pra alguns, quem sabe pra você, pode parecer um paradoxo, né?! Mas não é! Peço a Deus que o Dia o faça entender... Cáio Fábio, outra referência pessoal no Caminho, talvez possa expressar com maior clareza minhas “segundas intenções” (aquelas por trás da minha “amostração”, se é que ela ainda existe a esta altura!) ao elaborar essa página virtual. Ele diz: Diante disso, fica declarado suspenso o meu direito de me escandalizar com o que quer que seja verdade sobre você. Prefiro caminhar com você a partir de suas lutas e temores do que fingirmos que não trazemos essas coisas embutidas no cerne de nossas tribulações e dramas de vida.
Pronto, creio que agora consegui dizer o que eu queria. O internauta encontrará aqui um pouco do Que está dentro de mim. Na realidade, quem está querendo encontrar algo sou eu. Quero encontrar mais um cúmplice do Caminho. Se eu der sorte, achar um amigo... quem sabe?! Essa é minha oração. E, se Deus me abençoar mesmo, descobrir Jesus em você, meu próximo; e você em mim, como um reflexo na água. Só dessa forma, poderei te amar como a mim mesmo. Ou não foi assim que Deus nos amou? Identificando-se conosco, fazendo-se homem, tornando-se um de nós, reproduzindo em si mesmo nossa imagem caída, como um reflexo na água?
Alguém pode estar dizendo: Esse cara ,com essa estória de imagem refletida na água, só reforça suas pulsões narcisistas. Afinal, foi assim (contemplando seu próprio reflexo) que o Narciso da mitologia “apaixonou-se” por si mesmo. Perceba, no entanto, a gloriosa transformação da minha idéia egoísta inicial. Ao prostrar-me diante das águas para ver minha imagem, a Água Viva me surpreende: me faz enxergar a face do meu irmão, do meu próximo. Consigo, então, querer o seu bem como quero o meu. Compreendê-lo e ajudá-lo em suas lutas, já que elas não são tão diferentes das minhas como eu pensava, são a cruz que carregamos todos os dias. E aqui, maravilho-me com outra imagem refletida na água: a de um homem ferido carregando monte acima um pesado madeiro... ele é pregado e, em meio a agonia, intercede pelos seus algozes ofertando-lhes seu perdão... ele morre, mas no último suspiro diz que está tudo consumado, como se tivesse completado um missão... o homem de dores ressuscita ao terceiro dia e volta pra casa de seu Pai. Sim, é Ele: Jesus! É Ele o exemplo que anelo seguir desde o instante em que me ensinou a admitir minhas dores e, a partir delas, poder voltar, como Ele, ao meu lugar: os braços do Pai... o Amor pelo qual tanto clamo. É Seu amor que pretendo refletir qual reflexo na água para todos aqueles que puderem contemplá-lo... àqueles por quem Deus quis morrer.
Se em algum momento falhar em meu intento, perdoe-me, é que por enquanto, minhas águas são turvas e inquietas pelos vendavais deste tenebroso mundo, não me deixando refletir Sua imagem com perfeição. Contudo, não se preocupe, a Imagem é tão maravilhosamente bela, que minhas ondas são incapazes de ofuscar seu encanto.
Seja bem-vindo!