Penso que tinha três ou quatro anos,
não sei bem ao certo.
O que me lembro com clareza é de uma rua,
caminho de casa.
Éramos apenas eu e meu pai andando juntos.
Às vezes, ele me colocava sobre seus ombros largos e
corria a passos firmes, incitando o vento a roçar mais forte na minha pele.
A sensação que eu tinha é que era tarde da noite.
A rua estava deserta.
Como companheiros, tínhamos apenas os postes e suas
luzes amenas apontando o rumo do lar.
Já de volta ao chão, vejo no rosto moreno de
meu pai um olhar maroto, de quem quer brincar,
aprontar uma travessura.
Sem aviso, ele passa a correr como um raio e em
segundos parece sumir por entre as bruma da noite.
Senti naqueles instantes pela primeira vez meu coração
pulsar mais forte, o sangue circular veloz por minhas
veias e medo, muito medo.
Medo de estar só, medo da escuridão, medo de não
chegar em casa.
E gritei. Gritei com todas as minhas forças, as lágrimas
correndo grossas sobre minha face.
Foram alguns poucos segundos. Para mim, o primeiro
contato com o desconhecido.
Logo pude ver meu pai de volta, estampando em seu
rosto um sorriso aberto, quase que uma gargalhada.
E senti seu abraço forte, seguro, protetor.
Já não me importava mais a distância, o tempo,
a escuridão, a rua deserta.
Sua presença era tudo.
Thomas Merton